segunda-feira, abril 12, 2010

Transcrição de eu mesma

A gente é feito de
A gente é feito de carne e de vácuo
De uns buracos negros que às vezes a gente tapa com cigarro
Não
De buracos negros que a gente tapa
De buraco negro que
Que que a gente tapa com cigarro
ou com amor
Deixa sangrar deixa doer
é boa a sensação do buraco
também é boa a sensação do buraco
por mais que doa que arda que pinique
uma sensação de tá vivo
uma sensação de ser
um ser humano
com sensibilidade
e é isso que eu sou
um ser humano com muita sensibilidade com muito descontrole dessa sensibilidade
Ainda
em busca
não sei se sensibilidade se controla ou se ela é feita pra ser descontrolada mesmo
mas é linda ela
Buraco a gente às vezes até tapa provisoriamente quando a gente tá pleno quando a gente se sente feliz quando a gente encontra alguém (respira) legal
(sussurra) mas ele continua lá
é engano achar que (pausa)
que a gente vai se completar algum dia
a gente é feito de...
pra ser incompleto mesmo
tipo peneira
a gente é feito de carne e de vácuo
é isso
(passa um caminhão)
e
se é pra doer agora deixa doer
já doeu tão mais antes
eu sobrevivi (chora)
a duras penas (chora)
eu me fortaleci (ainda chora)
eu deixei o buraco um pouquinho menor
eu to mais forte to mais resistente (tenho certeza disso)
(respira)
eu realmente queria que tivesse sido ele
o homem
se fosse só a cabeça que escolhesse que mandasse seria ele
mas (expira)
o corpo o sexo
o resto
diz que não
diz que acabou (pausa)
e tá sendo difícil enganar esse resto (pausa)
disfarçar com pensamento elaborado
pensamento elaborado pode me convencer um pouco
mas não por muito tempo não
não mesmo
(funga com o nariz)

(se fosse possível, eu anexava a gravação)

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