sexta-feira, abril 30, 2010

Distração


assim: que me distraí
e quando fui
e quando vi
não tinha nada ali
ou aqui
assim: desandei
como faz pra desandar?
simples
só não deixa fugir a vida
eu deixei
escorreu entre os dedos e os joelhos
encolhi
fiquei
e ela foi
sem mim
volta
volta aqui
corre anda rasteja
vem cantar!
como quem resiste!
que eu to me encontrando de novo
debaixo desse pó
dessa fumaceira de cigarro
dessa bebedeira
dessa bobagem toda
vem que eu te aceito
vida
me escolhe
vida
me espera
vida
vamos viajar?
vamos mudar o rumo das coisas?
vamos falar alemão?
vamos estudar em berlim?
vamos vida?
você me aceita de volta?
eu tenho planos
não tenho?
eu tenho desejos de grandeza
de plenitude
de evolução
de trabalho
de teatro
eu tenho, tenho mesmo!
você acredita em mim, agora, depois deste desvio, você me quer de novo, vidinha?
ó vida
ó vida
come on
let´s do it
até o fim
juntas
vamos passear
(se embebedar só de vez em quando)
vamos aprender
esquecer
aprender
esquecer
cair tropeçar
dormir
morrer
rir
uivar
vamos?
estrada afora
colo
ombro
duas partes
do consolo

sábado, abril 24, 2010

As amigas têm sido minhas melhores namoradas.
É bom que são várias e tão diferentes que se eu me canso de uma tem a outra e se gosto tanto disso numa, amo muito aquilo na outra.
Se a gente pudesse ter assim, vários namorados, e que eles se complementassem! Um é incrível nisso e chato naquilo, o outro, ao contrário. E o outro, tem tudo isso, mas não tem aquilo. E aquele outro, às vezes me canso dele, mas ele também é genial em alguma coisa. Não seria mais simples?
Mas aí não pode.
Tem que escolher um e ir até o fim com ele. Tem que esgotar, cansar, saturar, brigar, amar, querer, enjoar, grudar, viver, sugar tudo de apenas um.
E depois a relação fica esturricada.
Já tentou de todos os jeitos.
Já conhece acordando, dormindo, comendo, tomando banho, de mau humor, bêbado, feliz, num ótimo dia, com trabalho, sem trabalho, na rua, no campo, na fazenda, na praia, de roupa, sem roupa, de sunga, de cueca, de regata, de manga comprida, no carro, num barco, no café e na janta.
Não resta mistério, suspense e nem segredo.
Se não fosse apenas um, e de cada um se conhecesse só até um ponto, nunca além, nunca ultrapassando o limite do saudável, seria possível?
O problema é que podem virar várias relações ultra superficiais e nunca nenhuma nos deixaria marcas profundas.
Gosto das marcas que as pessoas importantes deixam na gente. Na alma da gente. É pra sempre.
É. Melhor deixar pras amigas este incrível papel das minhas inúmeras namoradas.
to que to quase desmontando. esparramando. esvaindo indo indo.
que equilíbrio não tem graça nenhuma. estabilidade não leva ninguém a lugar nenhum. nem vontade de escrever dá. a inspiração vem da instabilidade. vem do desmorono, desconsolo. vem do barranco, não da planície. daqui de cima vejo um zilhão de caminhos, todos possíveis. agora é escolher e ir. mirar e acertar. lançar minha flecha pro mundo, botar meu bloco na rua, fazer a invasão, o ato subversivo que é viver. quero ir minha gente. simbora. ver irene rir.

quarta-feira, abril 21, 2010

"...se a solidão passa tão lentamente, será que vou morrer mais tarde que os outros homens? Eu te imploro uma resposta.
Sempre sua,
Lucila."

domingo, abril 18, 2010

"homem é um bicho... (procura a palavra na cabeça), um bicho... (procura a palavra) é... um bicho... (encontra!) O homem é um bicho."
Olha só pra ela, ela não tem mais 17, não tem mais cabelo comprido, nem aparelho nos dentes, nem usa mais a saia de bolinha preta e branca. Não é mais filha. E isso já faz tempo. Mas olha só ela. É meio uma outra ela, não é não? Não sei se cresceu se engordou se amadureceu. Mas é alguma outra coisa que se aproxima mais de uma... mulher? Será? Mulher? Às vezes parece tipo um molequinho. De cabelo curto, quando não pendura brinco nas orelhas, aí confundem na rua. É? Menino? Mulher? Quem será que ela é? Será que sabe ou só intui? Encaretou? Endureceu? Ou relaxou e isso nem importa tanto mais. E depois vem. Depois deve vir. Alguma nova ainda que ninguém sabe. Não se conhece, porque só dá o ar da graça muito de vez em quando. Até lá o cabelo já cresceu, e dizem que aos trinta as mulheres se sentem muito... mulheres. Aí sim.

Veremos.
Viveremos.

sábado, abril 17, 2010

Embasbaque


Abro a porta do elevador e me deparo com um quadro, azul da cor do amanhecer que está ali do lado de fora da janela, o quadro azul encostado na parede. Abro a porta e páro diante do quadro azul. É um presente. Deixaram aqui pra mim. Para que quando eu chegasse em casa, 6 da manhã, já sem distinguir as coisas muito bem, com o dia insistindo em amanhecer na rua, para que eu ficasse ali, embasbacada. E fiquei ali, embasbacada, e não há melhor palavra para aquela sensação.
Ele pintou o quadro, entrou sorrateiro na minha casa e deixou-o encostado ali.
Para que quando eu chegasse em casa eu me deparasse, sem nenhum atenuante, com aquela dor escancarada na minha frente. Aquela dor aguda do quadro azul, do rosto do homem desconfigurado de dor, da mulher, do vermelho.
Nos olhamos por um longo momento, eu e o quadro.
Ele me disse mais coisas do que todas as palavras gastas nos últimos meses entre eu e o seu autor. Ele me disse mais do que todas as letras do alfabeto, todas as palavras de todas as enciclopédias do mundo. Na verdade, ele não disse. Ele gritou. Ele explodiu meus tímpanos, me ensurdeceu, ele me pegou e me virou do avesso.
Embasbacada ainda, pego o quadro em minhas mãos. Ele trêmulo assim. Ele esvaindo se desfazendo. Mas duro. Mas forte. Mas bravo. Eu o acolho. O trago para dentro do meu quarto. Pode passar a noite aí, hoje, falo pro quadro azul. Você tá frágil. Fique aí enquanto precisar ficar.
E o dia já está inteiro claro. E o girassol murchou na minha janela. E as luzes do centro ainda estão acesas. E alguns carros ainda transitam pela rua.

sexta-feira, abril 16, 2010

conversa de maluca

calminho aí, sr. ego, fica aí que eu já te dei bastante atenção até hoje. agora são as minhas outras partes que vão falar. e eu vou ouvir. shhh. você não, ego. você fica aí na sua, baixa a bola, pianinho. quero ouvir a inteligência. quero ouvir a emoção. quero ouvir sei lá quem mais que existe aqui, porque você, sr ego, tomou espaço demais. espaço demais que não é só pra você não, tem que aprender a dividir com os outros. e agora eu vou te deixar no seu devido lugar. porque você não tem me ajudado a tomar as melhores atitudes. você é dos prazeres fáceis rápidos e imediatos. você é do material da preguiça da comida. você é do egoísmo. você é do elogio e da crítica. se prende nessas coisas bestas. você é do consumo do consumo do consumo. da vaidade, é você, viu? eu até reconheço que você pode ser útil em vários impulsos, em vários movimentos que tomei, que me coloquei, que fui e tal. mas é aí que você tem que ficar e deixar eu ouvir o resto, pelamordedeus.

terça-feira, abril 13, 2010

sonhei assim
morria e me transformava numa cobra
uma cobra linda
ela (eu) era sagrada
as pessoas me veneravam
eu, sendo eu uma cobra, usava uma roupinha brilhante, sagrada
eu, sendo eu uma cobra, era mantida presa por uma espécie de teia de aranha
eu ficava presa porque eu era muito perigosa

numa certa altura do sonho
eu começava a comer esta teia que me prendia
e enquanto comia a teia eu me libertava dela
e quando comecei a me libertar
as pessoas em volta fugiram, apavoradas, já que eu era cobra perigosíssima, cheia de dentes
eu comia a teia grudenta esquisita, me lembro da boca aberta da cobra eu, cheia de dentes, comendo a própria teia
acordei pensando naquele lance de que a cobra troca de pele
uma pele morre
pra uma nova nascer
que forte este sonho
minha terapeuta diria: "Sofia, este sonho é um presente!"

segunda-feira, abril 12, 2010

Transcrição de eu mesma

A gente é feito de
A gente é feito de carne e de vácuo
De uns buracos negros que às vezes a gente tapa com cigarro
Não
De buracos negros que a gente tapa
De buraco negro que
Que que a gente tapa com cigarro
ou com amor
Deixa sangrar deixa doer
é boa a sensação do buraco
também é boa a sensação do buraco
por mais que doa que arda que pinique
uma sensação de tá vivo
uma sensação de ser
um ser humano
com sensibilidade
e é isso que eu sou
um ser humano com muita sensibilidade com muito descontrole dessa sensibilidade
Ainda
em busca
não sei se sensibilidade se controla ou se ela é feita pra ser descontrolada mesmo
mas é linda ela
Buraco a gente às vezes até tapa provisoriamente quando a gente tá pleno quando a gente se sente feliz quando a gente encontra alguém (respira) legal
(sussurra) mas ele continua lá
é engano achar que (pausa)
que a gente vai se completar algum dia
a gente é feito de...
pra ser incompleto mesmo
tipo peneira
a gente é feito de carne e de vácuo
é isso
(passa um caminhão)
e
se é pra doer agora deixa doer
já doeu tão mais antes
eu sobrevivi (chora)
a duras penas (chora)
eu me fortaleci (ainda chora)
eu deixei o buraco um pouquinho menor
eu to mais forte to mais resistente (tenho certeza disso)
(respira)
eu realmente queria que tivesse sido ele
o homem
se fosse só a cabeça que escolhesse que mandasse seria ele
mas (expira)
o corpo o sexo
o resto
diz que não
diz que acabou (pausa)
e tá sendo difícil enganar esse resto (pausa)
disfarçar com pensamento elaborado
pensamento elaborado pode me convencer um pouco
mas não por muito tempo não
não mesmo
(funga com o nariz)

(se fosse possível, eu anexava a gravação)

sábado, abril 10, 2010

Garrafa de vinho na mão, pela metade, argentino, barato. Sanguinolento. E quase bato o carro. O vinho me escorre pelo canto da boca, vampiresco. Minha amiga psicóloga me aconselhando, no copiloto: patati patatá. Adoro ouvi-la falar. Fale Ciça. Me ilumine, Ciça. Não me julgue, me entenda Ciça. SOCORRO Ciça! Solto um berro agudo. Foi por bem pouco, quase tive um ataque do coração. Aquele cara do carro prateado deve me xingar tanto a essa altura. Talvez me xingue até amanhã de manhã.
Desço a Consolação, lenta, casaco preto grande, noite fria e boa, vinho argentino barato, e vou dizendo "je suis rimbaud, je suis verlaine, je suis le vin, je suis le pain, je suis la citée". Assim, num francês que eu nem soletro bem. Maquiagem borrada, saindo do teatro. Feliz. Emocionada. Poetisa. Que nem escrevo mais sobre nada. Receita de bolo. Idéias vagas, calçadas, pés. Só importa se as palavras soam bem. E mais nada. E que nestas noites de outono e vinho me sinto livre. Me sinto bem.

Cura

Ar frio, dia branco, sábado.
Eu transbordando. Espirrando. Faltando ar.

Daqui a pouco tenho que chegar no teatro. E dar conta. Meus pulmões, minhas cordas vocais, minha garganta, meu corpo inteiro vão ter que funcionar ali. Mesmo que eu aqui esteja pela metade. E foda-se espirro, catarro, garganta com bola de pus. Foda-se noite de ontem, os sonhos mal assombrados, a cólica. Foda-se. A preguiça, o desânimo, a dor nos ossos.
Aí o teatro vem e passa por cima, atropela, suga. Ainda bem. E sempre que termina a peça eu me sinto curada. Teatro cura sim. Faz bem pra cabeça. Te faz sair de dentro de dentro de dentro. E o que acaba conosco é a cabeça. Sempre ela.

segunda-feira, abril 05, 2010

Eu me interesso pelo de dentro das pessoas. Não tão dentro tipo rim, tripa, coração. Não. Essa parte eu deixo pros médicos se interessarem. Me atraio pelo entre. Entre a tripa e a casca. Sei lá o nome que dá pra essa parte do corpo humano que acho que não pode nem ser considerada corpo humano. Mas sei que é aí que mora o alguma coisa que uns têm e outros não.

domingo, abril 04, 2010

de um domingo aí

Ginástica dos dedos. Tec tec tec. Ginástica do cérebro: escrever quando não se tem nada de importante pra dizer. Ainda assim, escrever. Como fumo, por vício. Como um jeito de preencher os buracos. Como um maravilhoso passatempo num domingo esbranquiçado como este. Empoleirada na cadeira giratória. São só dois dedos que digitam todas as palavras: nunca aprendi datilografia. Nunca aprendi a criar coisas profundas com as palavras. Nunca calculei o que estou escrevendo. Nunca fiz aqueles planejamentos para se escrever uma boa redação na Fuvest. Ainda assim, quando me empoleiro, quando os dedos começam tec tec tec, não há o que os faça parar. Uma palavra, outra, e outra e mais uma. E um texto. E eu me descrevendo. E eu me narrando. E eu me escondendo mostrando escondendo mostrando. E eu me deliciando. Fluindo, fluindo. Às vezes sai um bom. Noutras, um inútil.

sexta-feira, abril 02, 2010

Ode à cidade (de São Paulo)


Apaixonada por São Paulo há uns dias (ou anos?). Intensamente apaixonada por São Paulo. É. Assim, por cada rua que passo, penso que bom que é. Por cada bar boteco sujo. Cada casa de amigo. Cada esquina. Aqui, o Centro, então, nem se fale. Aqui Augusta sempre. Aqui postes de 1800 com luz amarelada iluminando a São Luís. Tão linda minha avenida! Tão linda minha vizinhança. A Cecília Santa com suas putas e travestis e michês. É tão cênico! Higienópolis deslumbrante com seus prédios de janelas imensas que cada um que eu olho penso que bom seria se um dia pudesse morar aí. A Paulista foda. Não tem palavras que descrevam andar de bicicleta pelas calçadas recém reformadas da Paulista. Ouvindo música então nem se fale. A Consolação, como eu amo a consolação. Vivo buscando-a. A Vila Madalena, pra onde me desloco quase todos os dias. Bar do Biro na Rua Simpatia. Mercearia fantástica. Dr. Arnaldo minha passagem obrigatória, como a odeio durante a semana. Mas a amo profundamente num domingo! Aquela vista que dá pra Avenida Sumaré, aquilo é lindo demais. Pegar metrô quando não tá superlotado também é ótimo. E a feira aqui da Praça Roosevelt é incrível. Várias velhinhas da vizinhança! Amo viver aqui. Trabalhar aqui. Me divertir aqui. Amo aqui. Olhar pela janela e ver movimento até de madrugada. Descer no elevador e sair nesta paisagem de Praça Dom José Gaspar, boteco do pagode, biblioteca Mario de Andrade em reforma há dois anos. E quando os metrôs ficarem prontos, aí vai ser ótimo. Amo aqui. Amo escrever sobre aqui. Acordar e dormir aqui. Ter uma história pra lembrar em cada bairro que passo. Cada rua me lembrar uma situação, um amor, um amigo, um caso. Os teatros. Os cinemas. Os restaurantes. Os SESCs. A Oscar Freire. A Benedito Calixto. A feirinha do Bixiga. O MAM. O Ibirapuera. Pinheiros, quanta lembrança. A Vila Madalena. O Butantã. O Sumaré, a casa do Tom! Alto de Pinheiros, minha infância, minha adolescência. Praça do Por do Sol. Quantas vezes Praça do Por do Sol. Casa do Lô. Casa da Bel. Casa do Guto. Casa da Ana. Quantas vezes casa da Ana. Amo as casas. Amo as pessoas. Amo aqui. Amo os shows no Studio SP ou SESC Pompéia. E quando fica de noite a cidade fica tão mais linda. Desde pequena lembro de falar pro meu pai que amava as luzes da cidade quando anoitecia. Lembro de andar de carro com meu pai, na Marginal, sei lá porque na Marginal, e me sentir grande. Me sentir bem quando é de noite já acontecia comigo desde pequena. Tantas casas tantos apartamentos que eu já entrei, saí, deixei marcas ou não, me senti bem, me senti péssima, me diverti, enlouqueci ou dormi. Quantos elevadores escadas rolantes shopping centers motéis botecos já falei dos botecos, mas sempre os botecos, cada fase um. Já foi o Paróquia. Já foi o Platibanda. Já foi o Bar do Zé. Já foi o Bar do Equipe! kBoom. Barusp. Parlapatões. Satyros. Carniceria. Quanta cidade nesta cidade. Quanta Sofia nesta cidade. Quantas horas no trânsito indo pra Sto. ANdré todosantodia durante três anos e meio da minha vidinha. Quanta Avenida do Estado. Quanta Avenida do Estado. Sta. Terezinha. Praça Rui Barbosa. Escola Livre meu segundo lar. Meu primeiro lar fora de São Paulo. Semáforo. Poste. Cuspe. Meio fio. Amo as palavras que se relacionam com a cidade. Amo os fios o encanamento a geladeira os alto falantes os carrinhos de gás cantarolantes. Amo as árvores que ainda restam na Avenida Higienópolis. Amo a minha janela a minha vista a minha avenida encantadora. Quanta cidade. Quanta vida nesta cidade. Quanta tristeza e choro pelas ruas de óculos escuros. Quanto desamparo. Quantos ensaios. Quantos testes. Quantas camas. Quantos chuveiros. Quanta gente! Quanta gente que vejo diferente e não vejo nunca mais na vida. Cada dia vejo muitas pessoas novas nas ruas e penso que nunca mais vou vê-las de novo. Quanta quanta gente! Aí eu. Só mais um serzinho ínfimo passeando por estas calçadas vida afora de Ipod no ouvido. Às vezes canto junto muito alto. Às vezes me controlo. Às vezes quero morrer. Às vezes parece que não tem espaço pra mim. Noutras, que eu sou dona disso tudo. Oscilo e cambaleio cidade de São Paulo adentro. De noite de dia. Eu aqui. Aqui é meu lar e não quero outro por enquanto. Não quero outra vida. Amo aqui. Amo aqui. Amo aqui. Pronto, falei.

Apaixonite Aguda




"Quando estou longe
Quero ficar perto
Quando estou perto
Quero ficar dentro
Quando estou dentro
Quero ficar mudo
Quando estou mudo
Quero dizer tudo"



Itamar Assumpção

Simples assim.

quinta-feira, abril 01, 2010

Nítido que a Humanidade não tem saída. Não é pessimismo. É só uma constatação e aceitação de que a natureza humana não é doce, não é harmoniosa, e nem sempre é feliz.
Essa coisa de ficar acreditando que temos que caminhar para uma elevação é linda, mas é improvável. Dentro do Homem cabem tantas coisas malucas. E é tão difícil juntar todos os Homens num lugar só chamado sociedade. Óbvio que vai sair treta. Óbvio que vai sair festa. Óbvio que vai dar em sexo e com ele um mundo hiperpopuloso. Óbvio que vai ter inveja, medo, solidão. É natural, entende? O nosso lado meio bicho e o outro lado meio ser civilizado ficam brigando um com o outro o tempo todo. Dentro de mim eles fazem uma festa! Deitam e rolam. Civilizadinha X Selvagenzinha. Quem ganha quem perde, aí depende do dia, dos hormônios, da estação do ano. É preciso aceitar que somos luz e trevas, dor e delícia, horror e maravilha, sempre. E isso não é monstruoso. É humano.