quarta-feira, outubro 19, 2011

tipo uma crônica?

às vezes o tempo falta, noutras ele sobra.

agora sobra. e vim matar duas horinhas numa lan house no bixiga onde sempre me sinto uma estrangeira. na minha própria cidade natal. me sinto em cuba, puerto rico, sei lá eu.

e ao entrar nesta lan house de um casal de chineses (2 e 50 a hora) me lembrei de berlim e dos turcos donos das internet kaffes, onde tantas vezes chorei, me desesperei, ou encontrei meus amores.
tinha uma que eu elegi como a minha internet, e durante um tempo só frequentei aquela. o kit kat custava 50 centavos. o turcão era bem mau humorado, eu ficava chamando ele pra perguntar onde estava o arrouba no teclado, ou o acento tal, ou como faço pra imprimir?? ele não entendia uma palavra do meu inglês, eu não entendia uma palavra do seu alemão-turco. em suma, a gente não se dava lá muito bem. mas acredito secretamente que com o tempo fui conquistando-o, nada me prova isso, só gosto de pensar assim. afinal, ele já conhecia meus horários, minha bicicleta e a minha cara de choro.
daí um dia fui numa outra lan house de um outro bairro de um outro turco. e foi lá que explodi em lágrimas porque não conseguia falar com o meu amor há uma semana e estava desesperada pensando que ele tinha me esquecido. fui pagar no caixa com a cara deformada de tanto que eu chorei. daí o turco me perguntou se eu estava com saudade da minha família. eu respondi - mentindo - que sim. daí ele falou que me entendia porque ele não via a sua família há 23 anos. eu fiquei chocada e fui embora logo antes que ele me perguntasse há quanto tempo eu não via a minha: 3 meses, eu teria que responder...

agora voltando pra cá no espaço tempo. são paulo, 19 de outubro, 16 e 47 da tarde. salto. to com vontade de fazer xixi. o espaço do elevador ta trancada e o tempo deve passar rápido pra que chegue logo 7 da noite, horário do meu ensaio.

estava caminhando na rua e me senti como um espírito que morreu e não percebe que morreu. e por instantes descobri que esta deve ser, sem a menor dúvida, a PIOR coisa a acontecer a alguém (mesmo que este alguém seja um espírito...).

e vou parar por aqui, já está assustador e um pouco esquisito este texto. e vou extrapolar minha hora aqui na lan house dos chinas.

quarta-feira, outubro 05, 2011

entres

silenciar-me

trancar nos meus calabouços os meus calabocas.













ami da li te

ali









onde a lua nasceu

onde dói um filho

onde dói a vida

onde o mundo vibra

ali na beirada da tragédia que tento compreender como atriz




no meu corpo
nas minhas beiras
nos meus entres
eternos
ali que é sem palavra
e junta com essa raiva que aqui tem habitado
e crescido
e eu a rego sem perceber
carrego pra todo lado
sei lá raiva do quê
xô.
e eu ali olhando ela
















e eu ali olhando











gracias, galo.

segunda-feira, outubro 03, 2011

com os olhos voltados pra dentro da cabeça
miolos

o pescoço afundado nos ombros
torcicolo

e as pernas e braços recolhidos
toco

não quero sair daqui
me deixe ficar aqui
ficar em silêncio e só
na minha navegação solitária rumo ao lado de dentro

re organizar
meu organismo dezorganizou
quero meu eu de volta
vibrando
feliz

agora é névoa
é transição de algo pra um algo outro
já vivi isso antes, sei como são as coisas. algumas delas. as minhas, eu ando sabendo mais.

raiva bate na portinha vez ou outra
com frequência ela vem
e eu a barro
quero deixá-la entrar
preciso das minhas ferramentas
arregaçar as mangas
e ajeitar as coisas por aqui.

aqui dentro
onde meus olhos olham pros miolos, a cabeça esmaga o pescoço pra dentro, os braços e pernas se recusam a sair.
aqui não é bom nem ruim. aqui só é. e é longe de você, o que melhora as coisas.

tchau