sexta-feira, agosto 29, 2008

os de nós

Será que é de escrever que preciso?
Mesmo que escrever não seja preciso.
Mesmo que viver seja inventar a cada dia um dia novo. Porque a tendência é todo dia ser igual. Sol nasce. Flor murcha. Nuvem passa. Nós, seres de carne e sentimento, de cimento e ciúmes, nós é que inventamos que um dia é diferente de outro dia. A natureza é sempre ela, tem ciclo, tem tempo, mas não está mais feliz num dia do que no outro. Não está de bom ou mau humor. Ela s i m p l e s m e n t e está. E convive com seus semelhantes simplesmente estando. Nós é que destruímos e nos deixamos destruir pelos semelhantes. Nós é que fazemos barulho no sono dos outros. Nós é que engarrafamos o mundo. Nós é que. Nós é que.
Mesmo que escrever não seja preciso, nós é que escrevemos.

às vezes, é o que me resta. noutras, o que me basta.

domingo, agosto 10, 2008

Do tanto que lembrar me dói

Bate relógio bate cabeça na parede
joga relógio no chão
cabeça voa
pé fincado no cimento
agarra



Bate pirulito que bate bate
o anel que tu me destes
joga ciranda na parede
cai de bunda quebrada no paralelepípedo



Qual é a palavra mais difícil do mundo?



Bate na porta
tempo que bate torto
joga tempo pela janela
Sobra eu o relógio o mundo a parede o asfalto



Bate e me parte ao meio
um seio aqui
ali outro seio
um meio que fica meio sem saber
aonde ir