segunda-feira, julho 27, 2009

cento e um

Um lapso.
Lápis desenhando o risco tênue dos seus cílios inferiores (eu quis ser desenhista e mal virei um escritor).
Escrever é desenhar com palavras na imaginação dos que nos lêem. Escrever é bênção e alívio, prazer e dor. De nunca acertar. De estar em busca todos os dias. De enfrentar falta de idéia, palavras que nunca preenchem, buraco na alma. Enfrentar, insônia adentro, o silêncio insuportável de uma rua inabitada. Cabeça inabitada.
Então escrevo sobre:
Dificuldade de encontrar o outro que me foge eternamente por entre os dedos, vivo tapando sol com peneira, tentando te buscar de peneira e alçapões nas minhas mãos duras de quem ama até demais. Mas quando? O amor te machuca não é? O amor te arranha te cospe na cara te xinga na madrugada. Te liga e te acorda cheio de rancor, o amor, essa besta desvairada. Essa coisa feita sei lá de que substância que às vezes corrói e arde quando entra em contato com a pele. Eu só queria que. Só queria. Você e só. Só você só pra mim. Você só pra mim. Você pra mim e só. Doença esse amor compulsivo esse amor enjoado egoísta mesquinho.
Quando você se esquece de mim e eu me esqueço de ser sã. O amor me possui me retorce e me transformo em monstra desvairada Medéia maluca de amor nas veias. Então é tarde. Nada segura ou contém. Jogo tudo no lixo, cuspo no seu nome, te juro o ódio mais horroroso. Aí é tarde. Porque você se volta contra o meu amor doente e não quer mais compactuar.
E a Medéia vira cordeiro manso rapidinho pra não te perder. A Medéia morde a língua e esquece de tudo pra não te perder. Vira Ofélia num instante. E diz que estava possuída, sei lá o que me deu, essas coisas, a Lua, a TPM, acho que to no meu inferno astral. Não, aquela ali não era eu, não, imagine, como pode? Eu sou essa aqui, meu amor, você me conhece, não é? Eu jamais seria capaz de.

segunda-feira, julho 20, 2009

TRAGA-ME UM COPO D'AGUA TENHO SEDE
E ESSA SEDE PODE ME MATAR.

domingo, julho 12, 2009

sobre ser

Períodos longos sem palavras deixam buracos nos blogs nos cadernos na vontade de juntar. Lé com cré. 

Desorganizadamente, caminho. Sem ponto cardeal pra me guiar, já basta o horóscopo diário do jornal que obedeço re li gi osamente. Me deixo orientar por pequenas intuições e possíveis sinais. Mas sigo sem um 'projeto de vida'. Nem sei o que é isso. 

Precisa ter pensamento sobre tudo e minha cabeça dói. Não sei sequer de onde vim, pra onde vou, porque existo hoje neste mundo, o que fui em vidas passadas, o planeta que está na sétima casa do meu mapa astral, qual personagem eu gostaria de viver no palco, se quero dirigir, escrever, atuar, dançar, cantar ou se quero, e devo, simplesmente, ser.

"Se a gente fosse a pé até a Lua, chegaríamos em nove anos".

Se até isso é possível

Se me der a louca e eu quiser sair navegando por todos os rios de todas as cidades.
Ou se me der vontade de viver na rua? Abandonar. Tudo. E se?
Ir parar em Berlim. Viver de artesanato. Perseguir o dono do SESC até o meu projeto ser aceito. Chegar em Belém de bicicleta. Andar pelada. Fingir ser outra, a partir de agora. Usar peruca e trocar de nome. Clandestinidade, exílio. Pode. Não pode?
Como seguir? 

Não ter de pensar. não ter de escolher o tempo inteiro. não ter que saber o que quero como artista. não ter que saber discernir neste mundo difuso. não ter que ser coerente comigo mesma. poder errar. errar feio. ser mau educada quando der vontade. ir embora quando meu corpo mandar. me revirar de dor em pleno meio dia Avenida Paulista. saltar no pescoço de um homem bonito. ou mulher. não ter de aceitar tudo. não me preocupar se meu texto é legal ou se ele não é. pra mim é legal escrever, oras. 

pra mim é legal acordar num dia de sol. 
pra mim é legal andar a esmo cantando alto pela rua um samba do Cartola quando estou me sentindo a mulher mais especial deste mundo.
ou quando percebo a lua cheia nascendo laranja. é legal quando olho da minha janela e vejo uma cidade que não conheço se esparramando debaixo dos meus pés. e a vontade de voar que me acompanha. quando ele dorme segurando meu seio esquerdo. e quando eu acordo com tesão na madrugada.

e não ter de encontrar um fim pro que não tem.