segunda-feira, fevereiro 14, 2011

uma tempestade se arma

vou descer o morro pra cair no mar

que nesta vida que escolhi, não escolhi ser platéia

cansei de só ficar olhando, também quero me molhar

é aí que o céu desce ao chão

e todos encharcados dançam dentro de seus carros com vidro embaçado, parabris na velocidade máxima e ninguém arrisca

ninguém arrisca nada nesta cidade

nem 10 centavos

risco zero

eu estou arriscada naturalmente

fui pro lugar não confortável e to tendo que rebolar

mas agora preciso apontar pra direção correta e lançar minha flecha de diana paulistana atriz whatever século 21 internet rua cidade ácida casa nova

amanhã é cedo e muito cedo eu vou pirar.

evoé.

terça-feira, fevereiro 08, 2011

museu de mim

Mudar de casa é ir de encontro ao futuro desconhecido e, ao mesmo tempo, dar de cara com o passado guardado nas caixas, mofado, nas letras borradas das cartas que guardo há anos e anos e anos. É me encontrar nas coisas que nunca consegui jogar fora. É me desfazer de pedaços de mim que vão deixando de fazer sentido, deixando de me acompanhar. É começar do zero, mas com caixas e caixas de passado lacrado ali, e que não jogo fora nem a pau. Que nem olho, nem preciso, mas sei que estão ali. Me segurando. Me formando. Desapegar é tarefa árdua porque é abrir mão do que a gente já não é mas quer continuar sendo - porque é seguro, afinal de contas. Minhas fotos, meus 57 caderninhos com escritos de todas as fases da minha vida, as cartas que mandaram para mim desde meus 0 anos de idade, os ingressos das peças e shows mais marcantes, os bilhetes das viagens tantas, os presentes de todos os ex namorados, as cartas de amor, as pessoas que fizeram parte e que hoje eu nem sei onde vivem, os objetos que fui acumulando, as coleções de isqueiros que não funcionam, de fitas de cetim, de roupas de bolinha, os figurinos, as roupas que não servem, os sapatos fodidos - ufa - toneladas de passado. Passado pesado! Carrego tudo como se um dia fosse fazer um museu de mim mesma. Como se fosse um atestado de: "Ó, vivi", ou, "Ó, não passei a vida em branco" - os documentos comprovam que viajei, que amei, que trabalhei e estudei. Coisa maluca essa de mudar. E essa de não querer largar o osso. Isso é neurose séria que tem que ser tratada com muita terapia. Apego à matéria.
E se eu jogasse tudo isso fora?
Continuaria sendo a mesma sofia?
E se tudo isso que cultivei por anos e anos e que me dei ao trabalho de guardar e transportar e cuidar bem - isso tudo fosse pro lixo? Sobreviveria, eu?
Penso que minha casa nova merece uma nova eu. Livre desses mofos. Livre do passado. Da que fui. Mas me conheço o suficiente pra saber que não tenho coragem de jogar o passado no lixo.

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

espremida

o que me trouxe para esta tela em branco virtual as 3 e 40 da manhã foi um pensamento que me tomou no curto trajeto entre o estacionamento e a minha casa. pensei assim:
se o meu carro, neste momento, representasse algo maior e mais representativo meu - tipo a minha alma - hoje, seria algo beirando (ou mergulhando) o desastroso. Se meu carro representasse algo como o quadro do Dorian Gray que vai envelhecendo e apodrecendo de acordo com tudo de ruim que ele faz na vida, enquanto ele não envelhece jamais.
Resumindo todo esse aparente nonsense:
há oito meses não lavo o meu carro
há dois a capinha do espelhinho caiu
há muitos há batidas em toda a sua volta
e por último:
ontem fui espremida num engavetamento e meu carro está mais amassado que nunca

toda essa situação não pode ser encarada como um simples acaso, uma mera coincidência. isso quer dizer algo.
mostra como (não) cuido do que é meu. como não valorizo. não preservo. não amo.

tudo isso me deixou um pouco preocupada com meu modo de viver esta vida.