sábado, dezembro 17, 2011





É, agora tem música.
Tem Lia, Papi, Laura, Ana.
Cinco mulheres sentindo compondo nascendo pruma coisa nova para todas nós.
P a t o
P r e t o
Tá sendo simples, grande, bonita a experiência. Que eu sempre sonhei mas nunca me imaginei exatamente aqui. Coisas que a vida guarda pra gente e, quando a gente nem tá esperando, calha de acontecer.
Estamos em acontecimento.
Neste ano 2011 árduo, duro, puta que pariu de dia-a-dia, pé ante pé, de garçonete, pra professora, de professora para atriz de uma companhia que admiro, e daí para me experimentar pela primeira vez como diretora, e agora a banda. Onde ainda damos passos inseguros, notas desafinadas, mas onde o desejo nos arremessa para lá looooonge.

Seria sua leoa, serpente, um raio que corre.
Eu quero mais.
É crua a vida.
Piratas plantados na carne da aventura.
Estremece minha carne, batiza meu osso, tempera meu sangue.

E por aí vamos!!!

Evoé.

terça-feira, dezembro 06, 2011

Antropófago

Foi gigante e libertador assistir ao Evoé - Retrato de um Antropófago, no dia 5 de dezembro de 2011, quando eu, caminhando com as minhas questões (barulhentas para mim, silenciosas para os outros), cansada desse fluxo de pensamentos egóicos, me deparei com um ser LIVRE, ATUANTE e VIVO do nosso tempo, na tela do espaço unibanco.
Entendi que fazer teatro é viver para ele e que o lance maior é o encontro com o outro, é escancarar as portas e ATUAR no mundo. Abrir o corpo, a mente, entregar a alma para o estado de catártico, quando nós somos tudo e NADA. Não importa o EU. Importa o corpo atravessado pelo raio do outro. Importa a alma eletrizada. Importa a VIDA. Isso SIM.
Zé Celso é um devoto da vida e neste ponto eu me encontrei com ele.

domingo, novembro 20, 2011

Assim como não consigo mais me lembrar dos meus sonhos, não escrevo mais.

O lugar lá longe do de dentro da gente - sabe esse? - parece que perdi o contato com o meu.

Preciso despertá-lo para voltar a sonhar. Voltar a escrever. Aglomerar palavras naturalmente como eu fazia antes. Porque antes elas se formavam sem muito esforço dentro de mim.

"embora escrever me dê a grande medida do silêncio..."

Escrever era crucial, e agora um esforço.

Juntar lá com cá, lé com cré e fazer bonitezas.

Escrever é fazer bonitezas silenciosas.

quarta-feira, outubro 19, 2011

tipo uma crônica?

às vezes o tempo falta, noutras ele sobra.

agora sobra. e vim matar duas horinhas numa lan house no bixiga onde sempre me sinto uma estrangeira. na minha própria cidade natal. me sinto em cuba, puerto rico, sei lá eu.

e ao entrar nesta lan house de um casal de chineses (2 e 50 a hora) me lembrei de berlim e dos turcos donos das internet kaffes, onde tantas vezes chorei, me desesperei, ou encontrei meus amores.
tinha uma que eu elegi como a minha internet, e durante um tempo só frequentei aquela. o kit kat custava 50 centavos. o turcão era bem mau humorado, eu ficava chamando ele pra perguntar onde estava o arrouba no teclado, ou o acento tal, ou como faço pra imprimir?? ele não entendia uma palavra do meu inglês, eu não entendia uma palavra do seu alemão-turco. em suma, a gente não se dava lá muito bem. mas acredito secretamente que com o tempo fui conquistando-o, nada me prova isso, só gosto de pensar assim. afinal, ele já conhecia meus horários, minha bicicleta e a minha cara de choro.
daí um dia fui numa outra lan house de um outro bairro de um outro turco. e foi lá que explodi em lágrimas porque não conseguia falar com o meu amor há uma semana e estava desesperada pensando que ele tinha me esquecido. fui pagar no caixa com a cara deformada de tanto que eu chorei. daí o turco me perguntou se eu estava com saudade da minha família. eu respondi - mentindo - que sim. daí ele falou que me entendia porque ele não via a sua família há 23 anos. eu fiquei chocada e fui embora logo antes que ele me perguntasse há quanto tempo eu não via a minha: 3 meses, eu teria que responder...

agora voltando pra cá no espaço tempo. são paulo, 19 de outubro, 16 e 47 da tarde. salto. to com vontade de fazer xixi. o espaço do elevador ta trancada e o tempo deve passar rápido pra que chegue logo 7 da noite, horário do meu ensaio.

estava caminhando na rua e me senti como um espírito que morreu e não percebe que morreu. e por instantes descobri que esta deve ser, sem a menor dúvida, a PIOR coisa a acontecer a alguém (mesmo que este alguém seja um espírito...).

e vou parar por aqui, já está assustador e um pouco esquisito este texto. e vou extrapolar minha hora aqui na lan house dos chinas.

quarta-feira, outubro 05, 2011

entres

silenciar-me

trancar nos meus calabouços os meus calabocas.













ami da li te

ali









onde a lua nasceu

onde dói um filho

onde dói a vida

onde o mundo vibra

ali na beirada da tragédia que tento compreender como atriz




no meu corpo
nas minhas beiras
nos meus entres
eternos
ali que é sem palavra
e junta com essa raiva que aqui tem habitado
e crescido
e eu a rego sem perceber
carrego pra todo lado
sei lá raiva do quê
xô.
e eu ali olhando ela
















e eu ali olhando











gracias, galo.

segunda-feira, outubro 03, 2011

com os olhos voltados pra dentro da cabeça
miolos

o pescoço afundado nos ombros
torcicolo

e as pernas e braços recolhidos
toco

não quero sair daqui
me deixe ficar aqui
ficar em silêncio e só
na minha navegação solitária rumo ao lado de dentro

re organizar
meu organismo dezorganizou
quero meu eu de volta
vibrando
feliz

agora é névoa
é transição de algo pra um algo outro
já vivi isso antes, sei como são as coisas. algumas delas. as minhas, eu ando sabendo mais.

raiva bate na portinha vez ou outra
com frequência ela vem
e eu a barro
quero deixá-la entrar
preciso das minhas ferramentas
arregaçar as mangas
e ajeitar as coisas por aqui.

aqui dentro
onde meus olhos olham pros miolos, a cabeça esmaga o pescoço pra dentro, os braços e pernas se recusam a sair.
aqui não é bom nem ruim. aqui só é. e é longe de você, o que melhora as coisas.

tchau

sábado, setembro 17, 2011

história de amor

nossa dramaturgia começa com

"você já viu a lua?"

e do portãozinho da casa da vanessa pra uns beijos no carro na garagem da thaís em santa terezinha foi um pulo.
daí eu ganhei uma despejada de cera quente de vela na cabeça da cor dos ciúmes.
depois, um dia, um telefonema:

"vem comigo. vamos juntos. eu te apoio e você me apoia. vem comigo, vem".

fui.
e no dia seguinte fomos namorados.

e de namorar para casar, foi outro pulo, curto. longo. árduo. lindo.

tem berlim entre uma coisa e outra.

nossa dramaturgia é de risco.
é de jogar tudo pro alto e recomeçar a cada dor, a cada foda, a cada dia.

mas nosso sonho é junto. é nosso. lindo.

minha declaração maior é a minha certeza. é o fechar os olhos e "me guia" que eu vou. confio. acredito, plenamente. concordo. identifico. pedaço de mim que encontrei perdido no mundo. e juntou pé com cabeça, virgem com escorpião, e florescemos. juntos. lindo.

nossa dramaturgia também é difícil. envolve coisa ruim, lixo, saudades, erros e mancadas, grandes merdas. nossa dramaturgia tem conflito. ô se tem.

hoje a dramaturgia tá no limite. no risco maior que todos os que já foram. sou uma equilibrista de sombrinha literalmente. abora aporta de casa pisando em ovos. mas ainda assim, vou dormir ao seu lado que é o melhor lugar do mundo, sorrindo.

e acordando com seu sono imóvel. sorrindo.

vai passar meu amor.

vai passar.

a nossa dramaturgia não tem desfecho.

beijos,
sua.

quarta-feira, setembro 14, 2011

cala a boca bárbara

debaixo da terra é silêncio

debaixo da pele é silêncio

debaixo da água é silêncio

no mergulho dos sonhos é silêncio





ali - entre a quietude e alguns sussurros
o grito abafado no sonho - e eu mordendo o travesseiro.

no som truncado do silêncio
o pesadelo e a queda ancestral

ali, onde adão e eva
ali pecado
ali não




bem ali.

segunda-feira, setembro 12, 2011

mon day

na outra encarnação fui um homem.
e aí que eu já sei como é.
prefiro ser mulher, mas gosto da companhia dos homens. às vezes prefiro, até.
trago daquela outra vida a simplicidade, o desejo e a coragem.

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agora meu cabelo crece a olhos nus. quero impedi-lo. não dá. todos os dias acordo e olho pra maquininha e ela olha pra mim e nos perguntamos, juntas: é hoje?

agora eu estou um pouco gorda.

agora eu lido com um bilhão de coisas que eu não lidava antes.

agora tenho uma casa. e às vezes me sinto como a minha mãe e não gosto da sensação. agora, daqui a pouco, tenho 25 anos.

uau. fuck. no.

agora é. agora sou. logo agora. justo agora.

bem aqui, assim. posso ser? pode sim. só querer. um dois três e já.

quero, logo hesito.
logo penso.
logo sou.

logo agora. justo agora.

terça-feira, agosto 30, 2011

De mudança

Chove na cidade sobre as nossas cabeças num dia típico calor-frio-calor-frio-chuva-torrencial. Sobre a casa: ela ficou vazia do dia para a noite. Há buracos pela sala, a geladeira partiu e deixou um grande vazio na cozinha, o quarto ao lado do nosso foi desocupado. Minha companheira de casa foi-se para o ex-primeiro mundo. Restam eu e o cigarro que sempre fumo. Eu e a casa metade cheia metade vazia. Eu e o país emergente. E o Bob Marley cantando no sonzinho novo.

Tudo muda o tempo todo.
Insistentemente, muda.

Eu, muda, na cozinha, tomo chá. Mudo, junto. Tudo, junto. Sempre tudo muda tudo. Ou nada muda tudo. Simplesmente muda, assim. Tec. Num estalar de dedos, num atravessar a rua, num dia frio que se torna infernalmente quente. Numa vontade que vira apatia. Ou numa frieza que vira desejo.

Ou o desejo que permanece, que não se esquece, que não deixa sossegar).

domingo, julho 31, 2011

sobre os desejos que vem me atormentar

bom, eles vem sempre, direto, cotidianamente.
isso me deixa feliz e angustiada, ao mesmo puto tempo.

1. feliz:
porque desejar é bom. é sinal de que estou viva. muito viva. pulsando. querendo. sinal de que a vida me atravessa, de que abro espaço pra ela entrar.

2. angustiada:
porque vivo numa sociedade baseada, há séculos, numa Moral cristã-monogâmica-casamento-felizes- para-sempre-na-saúde-e-na-doença-na-alegria-e-na-tristeza, onde a família é super valorizada, em que se condena brutalmente todos os tipos de desejo, e, em especial, aqueles de natureza extra conjugal.
e porque não posso tocar neste assunto. nem com meu cônjuge que eu amo tanto.

é que a minha cota bicho não me deixa esquecer. tampouco me imuniza do desejar.

e a cota bicho é egoísta mesmo. e isso é necessariamente ruim? ou será, pura e simplesmente, natural?

era uma vez uma mulher que vivia há um certo tempo sob a égide da monogamia. e se descabelava.

era uma vez uma mulher que se apaixonou por dois homens ao mesmo tempo quando tinha quinze anos de idade. e descobriu que era possível. e impossível, ao mesmo puto tempo.

era uma vez uma mulher que amava muito. tanto. que cabia se apaixonar por um, dois, cinco de uma vez.

e queria experimentá-los, todos. ela não era bruxa, nem histérica, nem vadia.

ela era uma mulher.
e uma mulher é uma mulher.

um homem também é um homem e também carrega dentro de si uma cota bicho considerável.

me atrai esse animal que existe em nós - seres homens e mulheres.
me cativa, me prende, me impulsiona, me atormenta, me amedronta, me seduz.

esse lugar que ainda não foi colonizado por completo.

deve ser por causa da minha herança indígena brasileira. ou da minha herança-macaco. ou por conta da minha herança homem das cavernas. não havia monogamia nas cavernas.

mulheres e homens são bichos lindos e cativantes e é uma perda gigantesca e avassaladora não podermos nos relacionar como realmente gostaríamos.

como bichos livres; como homens e mulheres civilizados.

sexta-feira, julho 29, 2011

doce tarde

flagrei um homem me espionando da janela do outro lado da rua. credo.

sono da tarde, sem sonhos. janela aberta, luz da tarde entrando, barulho de carro da oficina do outro lado da rua. homens falando, outros me espionando.

sono infantil da tarde, durmo, chafurdo. me entrego pra esse sono gostoso e descompromissado das crianças. acordo com o celular tocando e uns pensamentos esquisitos: "quando eu era um bebê, referia-me a mim mesma como bebê teodoro."

Oi, muito prazer, eu sou o Bebê Teodoro.

Pode um pensamento desses?

A porta range no seu abre-fecha. Estou sozinha em casa. Acordo com tesão, tesão da tarde, pensamento vaga por uns e outros.

Amo a janela entreaberta e a luz que vem de fora, junto com a sombra que a árvore faz no teto do quarto. Amo os galhos dessa árvore velha bem na minha janela que se misturam com os fios e o poste, a árvore abraçou o poste, impossível podá-la, eles viraram uma coisa só.

E chega de sono e divagações que já vou me atrasar.
A vida é concreta. A alma não.

quinta-feira, julho 28, 2011

Momento Itamar Assumpção

Dor Elegante

Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Como se chegando atrasado
Andasse mais adiante

Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa um milhão de dólares
Ou coisa que os valha

Ópios édens analgésicos
Não me toquem nesta dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra

terça-feira, julho 26, 2011


cocorosie

j'aime beaucoup.

essa velha senhora

"Seria demais, certamente, supor que eu não precise mais da realidade.

Seria de menos, todavia, suspeitar sequer que a realidade, essa velha senhora, possa ser a verdadeira mãe destes dizeres tão calares".

Paulo Leminsky - introdução de Distraídos Venceremos

segunda-feira, julho 25, 2011

Ah que saudades de escrever e só. E ponto. E já.

Escutando uma música maravilhosa do Itamar. Nova aquisição.

De barriga cheia de macarrão de tomate com mussarela de búfala e cerveja gringa.

Amo minha casinha, meu maridinho, minha vidinha maluca.

Tanta tanta crise e no final tá tudo bem, vai ficar tudo bem, confio, confio, confio. Porque não escolhemos o caminho mais fácil então tem que confiar. Troquei um trabalho de carteira assinada e salário bom por um trabalho artisticamente muito mais interessante e financeiramente muito pior. Mas se eu não escolho a arte ela nunca vai me escolher. E eu sempre vou escolhê-la. Como sempre fiz. E não me arrependo de nada, nem da minha escolha, nem da minha devoção, dedicação, anos de escola, não me arrependo.
Só ganhei com tudo isso. Desenvolvi um olhar pro ser humano, pra vida, pros outros, pro mundo, pra estética, pra configuração das coisas, pra desconfiguração das coisas, pro jeito que elas funcionam, não funcionam, deveriam funcionar, ou quebrar, pras brechas, pras frestas, pra janela que dá pro lado de lá do oceano, do tempo, pro fim das coisas e pro inacabado, pro infinito e pro nosso fim, que sempre se aproxima.

Por mais macarrão, cerveja gringa, cigarro, espiritualidade, cidade...

Tem fim.

quarta-feira, julho 06, 2011

dia mundial da falta de voz

perdi, literalmente, a voz.
Engoli um sapão. Uns, talvez. Que bloquearam a minha faringe, e colaram as pregas vocais umas nas outras impedindo a passagem do ar. Daí, calei. Emudeci. Sussurrei bem baixinho o dia todo. Quem ficou perto de mim pôde experimentar a sensação de falar, falar, falar sem ser interrompido. E daí, num certo momento, se entediaram. Se cansaram da minha muda companhia.

Deixei de falar na hora que tinha que falar e agora não falo nunca mais. Sem voz, sem lugar.

Até me perguntaram se eu era muda.

Imagina? Me senti mesmo, várias vezes, como uma muda e só sei que deve ser bem difícil. Mas também, ao mesmo tempo, vi que tem muita coisa desnecessária que deixo de falar. Basicamente tudo, eu diria. As falas por necessidade mesmo são algumas, poucas, ao longo de um dia. O resto vem pra tapar lacuna, preencher o tempo, soar simpatico etc etc.

Contra a mudez, é preciso se colocar na hora certa e da maneira certa.

Ontem fui dormir pensando nisso. Hoje acordei sem voz. Realmente. Preciso plantar meus pés no chão e aprender a dizer uns NÃOS de boca cheia, redondos e sonoros. E me fortalecer de mim. Convicção e confiança. É disso que preciso mais do que nunca. Fiel a mim. Sabendo de mim. Observando o que está ao redor, sem ficar sonsa, distraída, me perder. Não dá mais pra me perder.

terça-feira, junho 14, 2011

o vinho e mais ninguém
me saca neste momento
será que já foi difícil assim?
quem virá me resgatar desta vez?
e agora mais do que nunca parece que está nas minhas mãos

minhas duas mãos, frias frágeis

são apenas duas mãos pra dar conta de tanta tanta
conta
tudo errado como dois e dois
carcarááááá
eu uivo
eu guincho
relincho

carece ter coragem e coração
já sei
já sei

meu uivo guincho relincho sem direção
sigo queimando em febre
em amor saudades e o que mais vier me azucrinar

domingo, junho 12, 2011

about whisky

se arrumou, se enfeitou

(percebeu que era pra ele)

os fios invisíveis da cidade os conectou na noite fria.

quarta-feira, junho 01, 2011

a moira

Escrever sublimar
Escrever entender
Escrever elaborar
Meu pensamento passa pelas palavras lançadas na tela
Encher a cara de vinho
Sozinha
É não pensar?
Ou é sentir tudo mais mais mais
Tenho 10ml de vinho pra me embebedar
Não basta
Tenho natureza melancólica
Tenho beleza na melancolia
Mas sei ser alegre
Sei ser forte
Às vezes é só escolha, mesmo. De colocar For no One do Caetano me embebedar com 10ml de vinho e fumar. E escrever, claro.
Se eu pudesse escolher, eu teria sido na outra encarnação uma poetisa, do romantismo, das tabernas, do vinho e do absinto sinto, sinto muito.
Eu sinto, sinto muito se eu sinto muito.
Eu teria sido uma mulher que anda na companhia dos homens. Dos pintores. E eu escolhia sair com eles pelas noites de paris, sei lá porque paris, mas poderia ser também outro país, outra cidade cheia de história, cheia de clima, cheia de outono. Eu escolheria passear pelos parques, livre. E me envolver com os homens sem me envolver. Sabe como é? Eu sei. Só eu sei. Não, quanto pretensão! Muitos sabem como é. Me envolvendo até o ultimo fio de cabelo, até o último pelo pubiano, sem envolver... alma. Não! Alma envolve sempre, eu envolvo, sempre. Então eu me enganaria, fingindo não me envolver, tratando com banalidade, com cotidianidade. E aquilo ficaria ecoando tanto que eu nem me daria conta e um dia aquilo explode em sonho, em desejo, em vontade de...É sempre assim que começa e sempre assim que acaba. Eu me apaixono. Eu me atraio. Me atrapalho. E daí eu estava tentando mudar o destino, a moira, a maldição que jogaram na minha cabeça, no meu corpo, meu sexo. Eu estava tentando com força. Mas essas coisas parece que nem a força controla. Ou controla? E eu é que não deixo, eu é que quero, sim, me envolver e...Sou eu que escolho? Ou meu corpo? Mas meu corpo sou eu, não?
E agora, terminados os mililitros do vinho eu partiria pra cerveja. Gelada cerveja na noite fria. Fantasmagórica. O vizinho ouve Janis Joplin e eu e meu Caetano de sempre.
Não sei se é ele quem me atrai ou é a minha necessidade de sempre me apaixonar, de desejar uma pessoa nova. Uma aventura. Um marinheiro.
Fugindo e procurando. Fingindo e fugindo e buscando e indo de encontro a.

terça-feira, maio 31, 2011

brainstorm

meyerhold, susanne linke, sayonara pereira, berlim, em mil em mim, sola, osso duro de roer, espaço - página em branco, minha tinta é meu corpo quem pinta, contando uma história de mulher, parto doído, nasci, pari um homem barbado, chupado, sugado, a cena do meu filme particular há quase um ano na avenida paulista. meu material minha letra. rascunho. no final, entram em cena 200 mulheres, como em Lorca. 200 mulheres. E um homem.

"mas se não saio dessa, sufoco".

quarta-feira, maio 18, 2011

work in progress

uma só. sozinha. sola. no canto do palco, vestido de balé preto, sentada numa cadeira. preta. cabelo curto. varal de papéis antigos, cartas, mofo.
cocorosie. dança da bailarina triste. "quero gritar pro mundo: NASCI". acendem as luzes. movimento desenfreado de parto parindo pedaços de flor destroçada. chora ri. visto a camisa de homem. "te tiro filho e te tomo mulher. te bebo, ingiro, indigna do posto mãe. mas me esforço - talvez com mãos delicadas demais pra me chamar mulher - por recompensar a tua orfandade". põe tira camisa, joga, amassa, veste, transforma.
entra um homem em cena. ele e ela dançam, de costas, sem nunca mostrar o rosto. o homem sai e não volta mais. uma só. sozinha. sola. anuncia: "do meu filme particular. Cena de filme. Começa com ele me dando um livro do artaud de presente."

no mais, de agora é só.
Nossos dentes mordendo ao outro a boca como se mordessem a carne macia do coração

Raduan Nassar. Copo de Cólera.

terça-feira, maio 10, 2011

é viver esse sobe e desce dentro da minha barriga
lidar com esse monte de nãos metralhadora de nãos ratatatatatatataNÃÃÃÔÔÔ
e uns sins grandes, de mudar o rumo
mudo tudo constante e inconstantemente
mudo todo dia, tudo um pouco
mudo o cabelo como quem bebe um copo dágua
dentro muda. as vísceras cresem, encolhem
minha cabeça esquece
aprende
decora
escuto coisas
acordo chorando
ou rindo no meio da madrugada
falo russo dormindo
leio um livro pela metade
escovo os dentes rápido pra me livrar
ando de carro
pego trânsito
faço testes
sinto-me em um laboratório. muitas vezes a vida parece um.
de vários tipos de testes.
de sins e nãos.

quinta-feira, abril 07, 2011

criar um solo é:

sola de sapato dura de mastigar
soleira da porta com fresta de luz entrando por baixo
cheiro de incenso
música do satie

medite um pouco
depois durma
acorde,
crie
pule
gire
grite
questione se você está sã ou se já enlouqueceu há um tempão mas só se deu conta agora
não tenha vergonha de si mesma - a sua pior inimiga, sempre.

o resto eu vou descobrindo e contando no caminhar.

quinta-feira, março 24, 2011

exaurida sangue sugada anêmica garçonete, 24.
atriz, não sei.
viver não tá sendo bolinho.
ano do coelho.
do coelho caolho.
doar do árduo do ar doendo.
falta dormir.
comer.
amar.
trepar.
ver cinema.
fazer teatro.
beber cerveja.

falta

eu.

quarta-feira, março 16, 2011

Falar sobre a mulher é deixar que eu escreva livremente
Que eu disserte sobre qualquer assunto
Que eu me assuste
Que me arrebate
Feminino é soltar o verbo
Datilografar baixinho
Chorar no escuro da cama da casa dos pais
São meus dedos de mulher que me guiam
É meu corpo
É o que há de natural em mim: ser mulher
Não preciso que me peçam para falar sobre as mulheres
Tudo que eu disser estará atrelado absolutamente ao fato de eu o ser
Não há dissociação entre meu ser e o ser mulher
Tudo que eu escrever
Tudo que pronunciar
A tudo o que me render
Tudo que eu encarar
Tudo tudo tudo
Parte desta mulher que vos canta


encontrei este texto nos meus arquivos e não me lembro quando e nem se fui eu mesma que o escrevi. mas me identifico com ele e por me conhecer minimamente desconfio mesmo de que sou sua autorA.

segunda-feira, março 07, 2011

visitinha

hoje me visitei.
eu tinha dezenove anos, muita ingenuidade, muita vontade e acreditava muito. nada disso mudou. eu tinha cabelo mais comprido, eu andava da estação de trem pelas ruas de paralelepípedo de santa terezinha até chegar na pça rui barbosa sem número. onde está a escola livre.
hoje eu tive dezenove anos, cheguei meio perdida ali na porta do galpão, onde estava tendo uma aula de circo do milan e perguntei pros que estavam ali treinando acrobacias num dia quente de janeiro se ali era a escola livre. "é aqui, mas a entrada é por ali".
então por ali eu entrei pra fazer a minha inscrição no núcleo de formação de atores. e não saí nunca mais.
então eu hoje, 24 anos, peguei meu carro vermelho todo estropiado e atravessei a cidade e cheguei em santo andré, que hoje pareceu mais longe do que quando eu fazia o mesmo trajeto todos os dias. e cada lombada me arrepiou. cada farol e curva da avenida do estado me trouxe um fragmento de memória. quando cheguei perto da escola livre me arrepiei inteira. me pareceu que o tempo é uma coisa muito louca mesmo. que tinha uma eu ali, dezenove anos, ingênua e deslumbrada com a escola, vivendo ao mesmo tempo que essa eu de hoje, 24 anos, nostálgica. ali, saltitando, ali caminhando, ali dançando, cantando, vivendo, vivendo muito intensamente todos aqueles dias. eu me vi, me senti, arrepiei, lembrei de situações tantas. tanta história minha presa ali dentro. eu ali dentro, presa no tempo, nas paredes pichadas e a escola quase desabando de tão abandonada que está pela prefeitura podre. hoje eu tive a sensação cristalina de que o tempo não é linear coisa nenhuma e que eu posso tranquilamente conviver com uma outra eu que existe tanto quanto essa eu que vos escreve. existo ali na elt, onde num dia ensolarado entrei pra nunca mais, pro resto da minha vida, sair.

domingo, março 06, 2011

inventare

restam tres horas pra dormir até que chegue a hora de acordar amanhã. hoje.

resta uma vida pra viver

mas que não chega nunca!
cadê?

a vida é que me molda num sapato apertado - não eu que a invento.

quem sabe inventar a própria vida?
que eu saiba, os artistas

ou os religiosos
os monges
os gurus
os padres

esses inventam uma outra vida

agora eu
(e uma enorme parte da população)
tenho vivido uma coisa que me espreme, aperta, machuca
uma coisa de se vira no que der pra poder pagar o aluguel no fim do mês
uma coisa garçonete de restaurante perda de tempo de vida de alma

cadê meu combustível, minha vida?

"vida minha vida
olha o que é que eu fiz
deixei a fatia mais doce da vida
na mesa dos homens
de vida vazia..."

assim não quero não dá não tem jeito

vou inventar que posso sair deste trabalho e começar a trabalhar no meu mais novo projeto para o qual dedicarei minha alma inteira e parte do meu corpo. e minha voz.

vou reinventar essa vida que sempre foi a que experimentei até chegar neste ponto morto de bater cartão. bater cabeça. dar murro em ponta de faca. nó em pingo d'água. correr atrás do próprio rabo.

inventei para mim uma prisão com casa marido comida na geladeira trabalho com carteira assinada. e quero desinventar tudo isso agora já. estalar os dedos e ser automaticamente transportada para uma sala escura, sem som, com os meus eleitos para criarem comigo esta nova vida que eu ainda vou viver. no palco. e na coxia.

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

uma tempestade se arma

vou descer o morro pra cair no mar

que nesta vida que escolhi, não escolhi ser platéia

cansei de só ficar olhando, também quero me molhar

é aí que o céu desce ao chão

e todos encharcados dançam dentro de seus carros com vidro embaçado, parabris na velocidade máxima e ninguém arrisca

ninguém arrisca nada nesta cidade

nem 10 centavos

risco zero

eu estou arriscada naturalmente

fui pro lugar não confortável e to tendo que rebolar

mas agora preciso apontar pra direção correta e lançar minha flecha de diana paulistana atriz whatever século 21 internet rua cidade ácida casa nova

amanhã é cedo e muito cedo eu vou pirar.

evoé.

terça-feira, fevereiro 08, 2011

museu de mim

Mudar de casa é ir de encontro ao futuro desconhecido e, ao mesmo tempo, dar de cara com o passado guardado nas caixas, mofado, nas letras borradas das cartas que guardo há anos e anos e anos. É me encontrar nas coisas que nunca consegui jogar fora. É me desfazer de pedaços de mim que vão deixando de fazer sentido, deixando de me acompanhar. É começar do zero, mas com caixas e caixas de passado lacrado ali, e que não jogo fora nem a pau. Que nem olho, nem preciso, mas sei que estão ali. Me segurando. Me formando. Desapegar é tarefa árdua porque é abrir mão do que a gente já não é mas quer continuar sendo - porque é seguro, afinal de contas. Minhas fotos, meus 57 caderninhos com escritos de todas as fases da minha vida, as cartas que mandaram para mim desde meus 0 anos de idade, os ingressos das peças e shows mais marcantes, os bilhetes das viagens tantas, os presentes de todos os ex namorados, as cartas de amor, as pessoas que fizeram parte e que hoje eu nem sei onde vivem, os objetos que fui acumulando, as coleções de isqueiros que não funcionam, de fitas de cetim, de roupas de bolinha, os figurinos, as roupas que não servem, os sapatos fodidos - ufa - toneladas de passado. Passado pesado! Carrego tudo como se um dia fosse fazer um museu de mim mesma. Como se fosse um atestado de: "Ó, vivi", ou, "Ó, não passei a vida em branco" - os documentos comprovam que viajei, que amei, que trabalhei e estudei. Coisa maluca essa de mudar. E essa de não querer largar o osso. Isso é neurose séria que tem que ser tratada com muita terapia. Apego à matéria.
E se eu jogasse tudo isso fora?
Continuaria sendo a mesma sofia?
E se tudo isso que cultivei por anos e anos e que me dei ao trabalho de guardar e transportar e cuidar bem - isso tudo fosse pro lixo? Sobreviveria, eu?
Penso que minha casa nova merece uma nova eu. Livre desses mofos. Livre do passado. Da que fui. Mas me conheço o suficiente pra saber que não tenho coragem de jogar o passado no lixo.

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

espremida

o que me trouxe para esta tela em branco virtual as 3 e 40 da manhã foi um pensamento que me tomou no curto trajeto entre o estacionamento e a minha casa. pensei assim:
se o meu carro, neste momento, representasse algo maior e mais representativo meu - tipo a minha alma - hoje, seria algo beirando (ou mergulhando) o desastroso. Se meu carro representasse algo como o quadro do Dorian Gray que vai envelhecendo e apodrecendo de acordo com tudo de ruim que ele faz na vida, enquanto ele não envelhece jamais.
Resumindo todo esse aparente nonsense:
há oito meses não lavo o meu carro
há dois a capinha do espelhinho caiu
há muitos há batidas em toda a sua volta
e por último:
ontem fui espremida num engavetamento e meu carro está mais amassado que nunca

toda essa situação não pode ser encarada como um simples acaso, uma mera coincidência. isso quer dizer algo.
mostra como (não) cuido do que é meu. como não valorizo. não preservo. não amo.

tudo isso me deixou um pouco preocupada com meu modo de viver esta vida.

segunda-feira, janeiro 10, 2011

trovoada

assim,

o tempo passa

e isso apavora.

mas o tempo também é remédio santo

pra esquecer
ou relembrar

pra perder
reencontrar

pra costurar ferida aberta ou pra dar nó na memória: nada melhor que o tempo

esse caminhãozão que não para jamé

ontem a noite me olhei no espelho do banheiro e senti arrepio na alma de medo do tempo. me vi nova mas me pensei velha. me pensei no fim da vida. me pensei morta. e caiu lágrima do olho e doeu a cabeça de pensar que nessa vida a gente morre e não tem jeito não tem remédio que evite. morre e pronto.

e depois fugi do espelho com medo dos pensamentos que me atingiram feito relâmpago.

cabuuum