domingo, julho 31, 2011

sobre os desejos que vem me atormentar

bom, eles vem sempre, direto, cotidianamente.
isso me deixa feliz e angustiada, ao mesmo puto tempo.

1. feliz:
porque desejar é bom. é sinal de que estou viva. muito viva. pulsando. querendo. sinal de que a vida me atravessa, de que abro espaço pra ela entrar.

2. angustiada:
porque vivo numa sociedade baseada, há séculos, numa Moral cristã-monogâmica-casamento-felizes- para-sempre-na-saúde-e-na-doença-na-alegria-e-na-tristeza, onde a família é super valorizada, em que se condena brutalmente todos os tipos de desejo, e, em especial, aqueles de natureza extra conjugal.
e porque não posso tocar neste assunto. nem com meu cônjuge que eu amo tanto.

é que a minha cota bicho não me deixa esquecer. tampouco me imuniza do desejar.

e a cota bicho é egoísta mesmo. e isso é necessariamente ruim? ou será, pura e simplesmente, natural?

era uma vez uma mulher que vivia há um certo tempo sob a égide da monogamia. e se descabelava.

era uma vez uma mulher que se apaixonou por dois homens ao mesmo tempo quando tinha quinze anos de idade. e descobriu que era possível. e impossível, ao mesmo puto tempo.

era uma vez uma mulher que amava muito. tanto. que cabia se apaixonar por um, dois, cinco de uma vez.

e queria experimentá-los, todos. ela não era bruxa, nem histérica, nem vadia.

ela era uma mulher.
e uma mulher é uma mulher.

um homem também é um homem e também carrega dentro de si uma cota bicho considerável.

me atrai esse animal que existe em nós - seres homens e mulheres.
me cativa, me prende, me impulsiona, me atormenta, me amedronta, me seduz.

esse lugar que ainda não foi colonizado por completo.

deve ser por causa da minha herança indígena brasileira. ou da minha herança-macaco. ou por conta da minha herança homem das cavernas. não havia monogamia nas cavernas.

mulheres e homens são bichos lindos e cativantes e é uma perda gigantesca e avassaladora não podermos nos relacionar como realmente gostaríamos.

como bichos livres; como homens e mulheres civilizados.

sexta-feira, julho 29, 2011

doce tarde

flagrei um homem me espionando da janela do outro lado da rua. credo.

sono da tarde, sem sonhos. janela aberta, luz da tarde entrando, barulho de carro da oficina do outro lado da rua. homens falando, outros me espionando.

sono infantil da tarde, durmo, chafurdo. me entrego pra esse sono gostoso e descompromissado das crianças. acordo com o celular tocando e uns pensamentos esquisitos: "quando eu era um bebê, referia-me a mim mesma como bebê teodoro."

Oi, muito prazer, eu sou o Bebê Teodoro.

Pode um pensamento desses?

A porta range no seu abre-fecha. Estou sozinha em casa. Acordo com tesão, tesão da tarde, pensamento vaga por uns e outros.

Amo a janela entreaberta e a luz que vem de fora, junto com a sombra que a árvore faz no teto do quarto. Amo os galhos dessa árvore velha bem na minha janela que se misturam com os fios e o poste, a árvore abraçou o poste, impossível podá-la, eles viraram uma coisa só.

E chega de sono e divagações que já vou me atrasar.
A vida é concreta. A alma não.

quinta-feira, julho 28, 2011

Momento Itamar Assumpção

Dor Elegante

Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Como se chegando atrasado
Andasse mais adiante

Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa um milhão de dólares
Ou coisa que os valha

Ópios édens analgésicos
Não me toquem nesta dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra

terça-feira, julho 26, 2011


cocorosie

j'aime beaucoup.

essa velha senhora

"Seria demais, certamente, supor que eu não precise mais da realidade.

Seria de menos, todavia, suspeitar sequer que a realidade, essa velha senhora, possa ser a verdadeira mãe destes dizeres tão calares".

Paulo Leminsky - introdução de Distraídos Venceremos

segunda-feira, julho 25, 2011

Ah que saudades de escrever e só. E ponto. E já.

Escutando uma música maravilhosa do Itamar. Nova aquisição.

De barriga cheia de macarrão de tomate com mussarela de búfala e cerveja gringa.

Amo minha casinha, meu maridinho, minha vidinha maluca.

Tanta tanta crise e no final tá tudo bem, vai ficar tudo bem, confio, confio, confio. Porque não escolhemos o caminho mais fácil então tem que confiar. Troquei um trabalho de carteira assinada e salário bom por um trabalho artisticamente muito mais interessante e financeiramente muito pior. Mas se eu não escolho a arte ela nunca vai me escolher. E eu sempre vou escolhê-la. Como sempre fiz. E não me arrependo de nada, nem da minha escolha, nem da minha devoção, dedicação, anos de escola, não me arrependo.
Só ganhei com tudo isso. Desenvolvi um olhar pro ser humano, pra vida, pros outros, pro mundo, pra estética, pra configuração das coisas, pra desconfiguração das coisas, pro jeito que elas funcionam, não funcionam, deveriam funcionar, ou quebrar, pras brechas, pras frestas, pra janela que dá pro lado de lá do oceano, do tempo, pro fim das coisas e pro inacabado, pro infinito e pro nosso fim, que sempre se aproxima.

Por mais macarrão, cerveja gringa, cigarro, espiritualidade, cidade...

Tem fim.

quarta-feira, julho 06, 2011

dia mundial da falta de voz

perdi, literalmente, a voz.
Engoli um sapão. Uns, talvez. Que bloquearam a minha faringe, e colaram as pregas vocais umas nas outras impedindo a passagem do ar. Daí, calei. Emudeci. Sussurrei bem baixinho o dia todo. Quem ficou perto de mim pôde experimentar a sensação de falar, falar, falar sem ser interrompido. E daí, num certo momento, se entediaram. Se cansaram da minha muda companhia.

Deixei de falar na hora que tinha que falar e agora não falo nunca mais. Sem voz, sem lugar.

Até me perguntaram se eu era muda.

Imagina? Me senti mesmo, várias vezes, como uma muda e só sei que deve ser bem difícil. Mas também, ao mesmo tempo, vi que tem muita coisa desnecessária que deixo de falar. Basicamente tudo, eu diria. As falas por necessidade mesmo são algumas, poucas, ao longo de um dia. O resto vem pra tapar lacuna, preencher o tempo, soar simpatico etc etc.

Contra a mudez, é preciso se colocar na hora certa e da maneira certa.

Ontem fui dormir pensando nisso. Hoje acordei sem voz. Realmente. Preciso plantar meus pés no chão e aprender a dizer uns NÃOS de boca cheia, redondos e sonoros. E me fortalecer de mim. Convicção e confiança. É disso que preciso mais do que nunca. Fiel a mim. Sabendo de mim. Observando o que está ao redor, sem ficar sonsa, distraída, me perder. Não dá mais pra me perder.