sábado, janeiro 30, 2010

bailado

Cabeça lateja pensamento bebida suor confetes embolados no chão
Me segura parede
Que hoje eu to que to
Hoje eu danço
Me esfalfelo
Rebolo requebro
Hoje eu vou que vou
Sem medo
Sem dó
Meu sangue ferve
Me segura parede
Mão boca líquida suor vodca red bull
Nó de perna
Nó de corpo
De ritmo suor ritmo suor ritmo suor
Cabelo dente carne mão
Mão Mão Mão

Mas as luzes se acendem
E a faxineira começa a varrer o salão

terça-feira, janeiro 26, 2010

Vivo no mundo

O mundo que começa no meu travesseiro e termina... e termina... ali na esquina

Ou ali na Augusta, Nestor Pestana, Martins Fontes... Major Sertório. General Jardim. Rego Freitas.

E ainda Consolação. Praça Roosevelt. Ipiranga. Copan.

Meu mundo está no centro. Do mundo.

E eu... eu... eu...

No centro de mim estou eu que estou no centro do centro do mundo. Eu que sou mais uma na multidão do centro do mundo. Todo mundo está no centro de seu mundo. Quantos mundos me rodeiam e eu sequer sei de suas existências.

Meu umbigo cruza muitos umbigos diariamente.
Umbigos centrados em seus mundos. Umbigos que vieram de mães que vieram de avós e tataravós. Umbigos de gerações convivem ao lado do meu umbiguinho jovem.

Quantos seres. E eu conheço tão poucos. E eu que mal sei
de mim.

quarta-feira, janeiro 13, 2010

mais um

Eu mergulhava na piscina e afundava até onde meu pé enconstava no chão. Pegava impulso no chão e começava a voltar para a superfície. Mas a superfície não chegava nunca. E meu ar acabando. E não chega nunca. E meu ar já no fim. E não chega e não chega e não chega. Não há mais ar. Alguém me puxa. Respiro. Renasço. Acordo.

quinta-feira, janeiro 07, 2010

Ilha do Cardoso
31 de dezembro de 2009

The last one. Árduo, esse.
E agora, daqui destas tábuas sobre o mangue
suspensa
solta
Me desfaço
Desfecho deste que termina hoje
Aqui
Peço, imploro
Que se entregue, Sofia
Que tire os pés do chão um pouquinho ao menos
Que aquiete essa cabeça pesada
que pensa pensa e pensa

Aqui jogo os meus miolos
que boiem e naveguem
mangue adentro
Me deixem livre para em 2010
apenas ser.
Ilha do Cardoso, P.N.
não sei o dia

O que vai
embolado
fugido
escurraçado
Entrega nas mãos dos que construíram o mundo, os apetrechos da demolição

Aos que ficam
o resto
o troço
o canto inacabado
A lembrança de fogão enferrujado
panela sem tampa
tudo destrambelhado

E agora
é ficar
é erguer
refazer um pedacinho ao menos
igual não vai ser
não vai não
nunca mais.

IV

20 de dezembro de 2009
No ar: entre R.N. e S.P.

Não consigo dormir, PORRA
Avião é incômodo demais e a moça não me deu um travesseirinho quando eu pedi e aí acabaram todos os travesseirinhos. Minha cabeça mais rápida que esse avião. Queria que tivesse um botãozinho que desligasse pensamento e outro que regulasse ansiedade.

Do caderno III

Natal, R.N.
17 de dezembro de 2009

De volta à Natal.
Terça fomos viajar para Jardim do Seridó, sertão, interior do R.N.
Estrada de paisagem que eu nunca tinha visto igual. O sertão é seco, marrom, mas também é cheio de verde, árvores grandes e verdes misturadas com a Caatinga esturricada e marrom. E no meio do nada surgem açudes lindos, quase como miragens no meio de tanta secura. Água no sertão! Jamais imaginei uma coisa dessas... Segundo o motorista da van, seu Didi, a terra do sertão é fértil demais, cai uma gotinha de água e já vem logo um verdinho nascendo. Lindo, isso. E montanhas lindas, pedras cheias de formas, tudo me fascinando, me hipnotizando na viagem de van rumo ao mais absoluto desconhecido, rumo ao interior, ao tão ser da Terra.
Passamos dentro de muitas cidadezinhas, lindas, de casas pequenas e bonitas, as famílias sentadas na calçada tentando fugir do calor absurdo que assola o sertão, conversando, num tempo outro, vivendo simplesmente.

Em Jardim do Seridó, jantamos galinha caipira, carne de sol, arroz de leite, preá (!), paçoca, bife de fígado, farofa, UFA! Uma verdadeira orgia gastronômica no Restaurante do Seu José Diniz. Maravilhoso. Não preciso nem dizer que TODOS os seres que aparecem nestes caminhos são incríveis. Corações e almas e simpatias ambulantes!

No dia seguinte gravamos e viajamos para mais longe: Pau dos Ferros, que só pelo nome, já se percebe que nesta cidade não existe nada, a não ser CALOR. PAU DOS FERROS. Muito calor, lugar estranho, cidade feia. É uma das maiores cidades do sertão e parece uma imensa periferia de São Paulo.

Do Caderno II

Praia da Pipa
14 de dezembro de 2009

Paradise is near
Paradise is here!

Praia do Amor

Depois dos pedregulhos, o Amor.
Dionisíaca. Perfeita. De pedras e vento e mar verde esmeralda.

Estou como o Diabo gosta! Em chamas!

Do caderno

Natal, R.N.
11 de dezembro de 2009


Cigarro, ar condicionado, frigobar, cama de casal, TV acoplada na parede, latinha de cerveja SKOL. Embarquei nesta viagem sozinha, all by myself, on my own, suela, solita, só. Me chamaram para este trabalho de publicidade do Governo do Rio Grande do Norte e eu vim. Eu e só. Eu e meus pensamentos e meu corpo e minhas questões e meus cigarros. Sempre detestei a combinação cigarro - ar condicionado, mas aqui em Natal não tem muito jeito, já que lá fora, mesmo nublado, faz um calor de derreter miolos.

Estar sozinha é uma arte. Noutras vezes, um tédio sem fim. Preciso ousar um pouco e começar a conhecer lugares que vão um pouco além dos dez metros que rodeiam a minha pousada.

Hoje vou sair pra passear no bairro da Ribeira.

Estou feliz e triste. Gosto e não gosto daqui. O trabalho é fácil: decoro textos rápidos e técnicos e vou para as obras gravar. A equipe é simpática e desorganizada. Fico me questionando o tempo todo sobre o que estou fazendo e penso que talvez fosse mais fácil e mais saudável encarar como trabalho mesmo e fazer a minha parte. Mas pensar com cabeça de artista é não se conformar mesmo e agora não tem mais volta: ou serei artista ou serei infeliz.

terça-feira, janeiro 05, 2010

Ilha do Cardoso

Back to Babylon.

Sem tempo de sentir falta da ultracidade atômica prestes a nos explodir.

Preferi o silêncio sobre as tábuas de um pier precário em cima do mangue.

Preferi o gole da Cataia artesanal de um certo Seu Malaquias.

Preferi o som do vento na praia que por um triz não nos leva embora de uma vez por todas.

Flutuei sobre ondas. Deslizei no chão do bar do Seu Malaquias ao som do forró que só lá consegue ser tão bom.

Amei as ondas, os siris, a chuva no zero da contagem regressiva para o início do novo ano. E correr pelo mar quente com a chuva fria e o vento absoluto. E abraçar meus amores, meus pedaços de mim que me acompanharam nesta jornada.

Amei a cama ruim e o calor onde quem manda são os mosquitos. Prefiro.

Agora eu aqui. Nua diante de uma máquina. Cigarro na boca. Cerveja quente na mão. E lá fora a chuva que castiga essa São Paulo sem solução.