sábado, janeiro 28, 2012

ano do dragão

Soltem
os dragões


soprem, tempestades chinesas
tormentas marítmas
fendas nas terra


Se segurem nos sapatos
apertem os cintos da razão
quem manda agora é o coração

deixa vir
transforma
sai daí
desloca

veste outra coisa
carece ter coragem

furacão enlouquecido
vontade é poder
temos as mãos, os olhos, os pés

ação, dragão!

nos devore e cuspa melhores
me deixa entender

me ensina de uma vez por todas como é que faz
pra crescer.

sexta-feira, janeiro 20, 2012

abriu a torneirinha da escrita
a gota melancólica no papel virtual

(sinto que vários afazeres estão sendo deixados de lado neste momento, mas não há quem me arranque daqui)

sei chorar
eu também já sei sentir a dor

mas isso não é meu, é do cartola. peguei emprestado.

sei lá sei lá sei lá

deu vontade de estar em berlin, right now. plim. e estou ali. em alguma rua do kreuzberg. com meu casaco pesado de penas de ganso que comprei na zara da dinamarca. meu gorro roxo e ridículo que cobre as orelhas, comprado em toulouse, frança. minhas luvas também roxas, que já estão se desfazendo.
o ar frio corta meu rosto, meus lábios. olho pro céu, azul. raro, nesta época fria. penso que o sol é uma dádiva do brasil. que nós não damos o devido valor. em berlin, quando há sol as pessoas comentam e sorriem. é feliz ter sol.



então, eu aqui, no meu transporte imaginário para berlin, agora estou enrolando um cigarrinho de papel, sentada num café, há um homem grande com um cachorro embaixo da mesa. eles deixam fumar aqui dentro, porque lá fora não dá pra ficar. estou enrolando, porque marquei a hora num cabelereiro que passei em frente e ele disse que só estaria livre em uma hora. resolvi cortar o cabelo como o das berlinenses, levar este lugar comigo, de volta ao brasil. ainda há pouco entrei numa biomarket e comi uma quiche. pedi em inglês, já desisti do alemão.


Daqui a pouco irei arrastando minha mala com rodinhas pela skalitzer strasse na neve até o bar em que o marco trabalha pra pegar a chave do ap dele, onde passarei minhas ultimas horas antes de embarcar de volta ao brasil. Mas na volta, vou parar no bar chamando sofia e tomar a minha cerveja preferida que se chama flenzburguer, ou algo do gênero.


Engraçado me lembrar justo do meu último dia em berlim, de uma viagem longa de meses, me veio à lembrança o ultimo dia...
tenho saudades de como me sentia lá. das possibilidades infinitas. das novidades infinitas na cidade mais legal do mundo. tenho saudades da eu que podia ser qualquer uma. da eu que não entrava em paranóia nenhuma. da eu que cresceu tanto tanto longe daqui.


------...-------
agora abro os olhos e estou na cozinha da minha casa, rua mário, vila romana. o cartola canta ao fundo junto com alguns cachorros do bairro que latem. 100% brasil. nossa, não sei como consegui me visualizar na alemanha, estando tão no brasil neste instante exato.

"os tempos idos nunca esquecidos trazem tristeza ao recordar" - o cartola acompanha meu ritmo de nostalgia.

sou tão naftalínica.
saudosista.
memórias a mil.

a laura falou uma coisa linda sobre a memória, outro dia. que as coisas que vivemos estão aqui, impregnadas, ferradas a ferro e fogo, ninguém as tira daqui. jamais. por isso, podemos deixá-las ali, tranquilas, adormecidas. não tem que ficar revirando, remexendo, não adianta, não tem volta. mas o que foi, foi, e ninguém tira o fato de que foi. e é o que basta. já vivemos, não precisamos viver de novo. talvez nem teria graça viver de novo algumas coisas.

então, me resta imaginar como será em berlim quando eu voltar. vou trabalhar, levar meu grupo de teatro, fazer uma residência, criar uma peça lá. sonho absoluto, mor. é o que quero. viver no amado bairro do kreuzberg, frequentar o bar em que o Marco é barman, deslizar de bicicleta pelas ruas lisas alemãs, aprender a língua, fazer teatro naquela cidade ultra inspiradora, apresentar coisas nas ruas, nas feiras, nos bares criativos, únicos.

é mais gostoso imaginar o futuro que lembrar o passado.


Numa via calma e torta
tua linda alma voa

solta teus cabelos grossos
canta até raiar o dia

jura amor
perde a razão
samba até cair no chão

vê a menina mais fogosa
foge selvagem
some no breu

Reza pros teus
clama pro Sol

Se a lua fosse nossa, pensa,
seria bom.

quinta-feira, janeiro 19, 2012

à um amor.

Do cão, a dona fiel
A zona de Lia me chama
para uma parte do globo qualquer
num ponto preto do olho preto dos pés pretos sem sapato

Tira os pés e pisa o mundo
Solta o cabelo, nuvem de chumbo
Alça teu vôo sereno
Calça minha mão na tua

Vamos juntas estrada da vida afora?
E ela responde:

"e se periga,
noite adentro."

quarta-feira, janeiro 18, 2012

A minha carta proibida
- a que nunca será enviada à (o) possível destinatária (o) -
começaria com:

"Adeus,"

A primeira frase da carta poderia ser:

"Você sabia que escrever cartas é o gesto mais desesperado que existe?"

E por aí, eu iria:
"... e que escrever cartas proibidas é ainda mais desesperador?
Mas ao mesmo tempo, é inspirador e solitário, escrever a carta que nunca será lida por seu (sua) destinatário (a). Uma carta disfarçada de conto, poesia, romance, já que esses sim, são destinados à ninguéns. E à todos, por consequência.

À ninguéns e à todos eu diria fatos não específicos pois senão estaria denunciando o teor altamente proibido da carta. Explosivo. Escreveria coisas gerais. Que poderiam atingir qualquer um.

Seria algo como escrever em um contexto de censura. Repressão, ditadura, impossibilidade de livre expressão. Sim, poderia escrever sobre isso. A censura. Que aqui não se trata da censura do Estado, mas do estado das coisas. Do ponto a que elas chegam, e se tornam impossíveis de ser.

Por outro lado, por quê não dar um chute na moral e nos bons costumes? Uma bica no limite entre a sanidade e a loucura, dar adeus à razão e deixar outras partes do cérebro conduzirem a mão pelo papel?
Sabe, isso tudo é bastante desesperado.

Mas gosto, masoquistamente, das marcas proibidas.
Gosto, doentemente, do que me desalinha.

Mas faz tanto tempo, já. A carta começou a ser escrita há séculos, e talvez eu nunca a termine. Não começou com a minha geração, e pode ser que se estenda aos meus descendentes. Como uma maldição grega, vai saber."

A carta não terminaria assim. Ela ainda não terminou, pois o tempo, senhor de tudo, é quem poderá dizer. Quando.

segunda-feira, janeiro 09, 2012



eu, nua, meu pequenino corpo que se confundia ali naquele universo de mar, céu, areia, é tudo tão maior, vai tão além deste pedaço de carne, esse corpo, humano.

Ifigênia - Se Ártemis quer meu corpo em santo sacrifício, que ela saiba que serei então a mãe do vento!
Tatá Aeroplano
tocando
sob o céu
da meia lua
inteira
no degrau da
capela
a música que
mais gosto e
se chama
cama.

30. 12. 2011

Ali
onde o mar encontra o rio
Onde o vento faz a curva
Onde vive sobretudo a loucura
outro tempo e outro espaço

a praia longe, longa
infinita, como sempre
como nunca
diferente

todo o mundo outro
Aqui dentro pulso fervilho penso
Vejo e abro os poros
recebo
da terra céu e mar
do papelzinho mágico no meu organismo

teve cajado
teve um bar na ponta de tudo
no ponto alto da doideira
e um brasileiro se fingindo de polonês pra tirar sarro da gente

e eu ri umas cinco horas seguidas
e falei com o Pedrão sobre poderes mágicos
o dele era abrir a Terra
o meu, uma varinha que atraía raios.

depois ele disse que o poder que ele queria era o de se transformar em qualquer ser vivo.

Aí caminhei de olhos fechados (dica do Martim).
E quando abri o olho eu tava no mar.

É onda é espiral.
É ciclo.
É sobe e desce.
O mundo, a vida, o tempo, o espaço, tudo mais do que nunca, cíclico.


Sobre ele

Só te encontro
durante o sono.

Só meu corpo toca o teu
Minha alma dorme no travesseiro ao lado.

No outro dia trocamos palavras

Eu, desperta.
Tu, sonâmbulo.

Desço, faço o café e volto pra te falar tchau e te comparar com o filhote de algum bicho.

Cada manhã você acorda um filhote indefeso diferente, na ingenuidade que habita os que dormem profundamente.

E daí, você é meu.

sobre nós

Quando o silêncio chega assim - avassalador - eu só espero ele partir.

Compactuo com ele. Deixo se instaurar.

(Me traz certo alívio até) o não falar.

Tem coisas que o verbo não resolve.

O silêncio, ele dá conta.