sexta-feira, abril 02, 2010

Ode à cidade (de São Paulo)


Apaixonada por São Paulo há uns dias (ou anos?). Intensamente apaixonada por São Paulo. É. Assim, por cada rua que passo, penso que bom que é. Por cada bar boteco sujo. Cada casa de amigo. Cada esquina. Aqui, o Centro, então, nem se fale. Aqui Augusta sempre. Aqui postes de 1800 com luz amarelada iluminando a São Luís. Tão linda minha avenida! Tão linda minha vizinhança. A Cecília Santa com suas putas e travestis e michês. É tão cênico! Higienópolis deslumbrante com seus prédios de janelas imensas que cada um que eu olho penso que bom seria se um dia pudesse morar aí. A Paulista foda. Não tem palavras que descrevam andar de bicicleta pelas calçadas recém reformadas da Paulista. Ouvindo música então nem se fale. A Consolação, como eu amo a consolação. Vivo buscando-a. A Vila Madalena, pra onde me desloco quase todos os dias. Bar do Biro na Rua Simpatia. Mercearia fantástica. Dr. Arnaldo minha passagem obrigatória, como a odeio durante a semana. Mas a amo profundamente num domingo! Aquela vista que dá pra Avenida Sumaré, aquilo é lindo demais. Pegar metrô quando não tá superlotado também é ótimo. E a feira aqui da Praça Roosevelt é incrível. Várias velhinhas da vizinhança! Amo viver aqui. Trabalhar aqui. Me divertir aqui. Amo aqui. Olhar pela janela e ver movimento até de madrugada. Descer no elevador e sair nesta paisagem de Praça Dom José Gaspar, boteco do pagode, biblioteca Mario de Andrade em reforma há dois anos. E quando os metrôs ficarem prontos, aí vai ser ótimo. Amo aqui. Amo escrever sobre aqui. Acordar e dormir aqui. Ter uma história pra lembrar em cada bairro que passo. Cada rua me lembrar uma situação, um amor, um amigo, um caso. Os teatros. Os cinemas. Os restaurantes. Os SESCs. A Oscar Freire. A Benedito Calixto. A feirinha do Bixiga. O MAM. O Ibirapuera. Pinheiros, quanta lembrança. A Vila Madalena. O Butantã. O Sumaré, a casa do Tom! Alto de Pinheiros, minha infância, minha adolescência. Praça do Por do Sol. Quantas vezes Praça do Por do Sol. Casa do Lô. Casa da Bel. Casa do Guto. Casa da Ana. Quantas vezes casa da Ana. Amo as casas. Amo as pessoas. Amo aqui. Amo os shows no Studio SP ou SESC Pompéia. E quando fica de noite a cidade fica tão mais linda. Desde pequena lembro de falar pro meu pai que amava as luzes da cidade quando anoitecia. Lembro de andar de carro com meu pai, na Marginal, sei lá porque na Marginal, e me sentir grande. Me sentir bem quando é de noite já acontecia comigo desde pequena. Tantas casas tantos apartamentos que eu já entrei, saí, deixei marcas ou não, me senti bem, me senti péssima, me diverti, enlouqueci ou dormi. Quantos elevadores escadas rolantes shopping centers motéis botecos já falei dos botecos, mas sempre os botecos, cada fase um. Já foi o Paróquia. Já foi o Platibanda. Já foi o Bar do Zé. Já foi o Bar do Equipe! kBoom. Barusp. Parlapatões. Satyros. Carniceria. Quanta cidade nesta cidade. Quanta Sofia nesta cidade. Quantas horas no trânsito indo pra Sto. ANdré todosantodia durante três anos e meio da minha vidinha. Quanta Avenida do Estado. Quanta Avenida do Estado. Sta. Terezinha. Praça Rui Barbosa. Escola Livre meu segundo lar. Meu primeiro lar fora de São Paulo. Semáforo. Poste. Cuspe. Meio fio. Amo as palavras que se relacionam com a cidade. Amo os fios o encanamento a geladeira os alto falantes os carrinhos de gás cantarolantes. Amo as árvores que ainda restam na Avenida Higienópolis. Amo a minha janela a minha vista a minha avenida encantadora. Quanta cidade. Quanta vida nesta cidade. Quanta tristeza e choro pelas ruas de óculos escuros. Quanto desamparo. Quantos ensaios. Quantos testes. Quantas camas. Quantos chuveiros. Quanta gente! Quanta gente que vejo diferente e não vejo nunca mais na vida. Cada dia vejo muitas pessoas novas nas ruas e penso que nunca mais vou vê-las de novo. Quanta quanta gente! Aí eu. Só mais um serzinho ínfimo passeando por estas calçadas vida afora de Ipod no ouvido. Às vezes canto junto muito alto. Às vezes me controlo. Às vezes quero morrer. Às vezes parece que não tem espaço pra mim. Noutras, que eu sou dona disso tudo. Oscilo e cambaleio cidade de São Paulo adentro. De noite de dia. Eu aqui. Aqui é meu lar e não quero outro por enquanto. Não quero outra vida. Amo aqui. Amo aqui. Amo aqui. Pronto, falei.

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