sábado, junho 24, 2006

Romantismo

Se ainda tivesse coragem de entregar-se para o amor, o imenso pasto do desconhecido, do alheio, do outro que não ela, o faria sem piscar os olhos. E seria fácil. Maravilhoso no início, de doer a barriga, tomar vento na cara, ouvir música apaixonada, de brilhar os olhos. Mas depois... Aos poucos iria ralentando, ofuscando, murchando, até que se esvaisse por completo e virasse só uma cosquinha debaixo do braço. Ah! Então era para lá que ele ia (o amor)? Não queria a descoberta num momento como aquele. Como é que uma coisa tão grande e brilhante podia se reduzir e quase sumir depois de um tempo?
Descobriu também que o amor é como bexiga, que infla e murcha, e precisa de muito ar nos pulmões e sangue circulando nas veias para poder mantê-lo.
Mas como podia vir ele despontando com tanta facilidade por entre os cabelos e a nuca acariciada? Será que era o mesmo amor que nascia de novo, assim, quase sem querer? Sem pensar, sem saber? Então era só de sentir? Era só abrir um espacinho que ele já ia chegando assim?
Não se sabe ainda, desde o mais antigo dos apaixonados, dos tempos que não são nem imagináveis (como sabê-los?) até hoje, como funciona e a que veio esse tal amor. Ouve-se por aí que ele está em extinção. Mas será possível extinguir o amor? Desprover-nos de tal bênção, de tal fé, de tal coração batendo forte? Não será inevitável, o amor?
E eram tantas e todas as questões que ela teve de abandonar o píer onde havia se sentado para encontrar algumas estrelas entre planetas e satélites, para isolar-se num mundo de idéias formuladas, onde o amor fica de fora. E era justamente este que ela buscava em meio a tantos pensamentos que caíam tortos na mente. Acabou pegando no sono sobre o colchonete duro que escolhera para dormir. Os sonhos iam e viam, se faziam fortes num momento, de histórias elaboradas e enredos analisáveis, e noutro, apenas passavam sem deixar grandes marcas: “como o amor”, pensou dormindo.

Um comentário:

Cristiano Gouveia disse...

Lembra de nossa conversa sobre Platão? Então...