Não queria soneto, nem banda, nem cupido. Queria percorrer ruazinhas de paralelepípedo rodeadas por casas de tijolos ruivos, com trepadeiras nas grades e gatos siameses sob os arbustos, à espreita. Quando me aproximo para alisar os pêlos frágeis, somem ágeis pelos telhados, feito poetas flutuantes. Paralisados, encaram-me lá de cima através dos olhinhos brilhantes.
Nunca fui o tipo que agrada aos animais.
Estrada afora, noite fria, álcool para circular o sangue. Corro deixando paralelepípedos, arbustos, grades, ruivos e gatos de olhos selvagens para trás.
Olhos embaçam lentamente como se fossem óculos e a noite se faz dia claro de céu e sol, mas o frio é mais ácido que nunca, de penetrar nos poros provocando pequenos e torturantes choques.
Cafés e cigarros empilham-se sobre a pia da louça de anteontem, dando um ar desleixado à casa. Ela samba na sala atiçando os vizinhos, ele se fecha no banheiro para chamar a atenção. "Dei um aperto de saudades no meu tamborim. Molhei o pano da cuíca com as minhas lágrimas..." gritava Clara Nunes do lado de fora da porta.
(to be continued...)
terça-feira, junho 27, 2006
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário