quarta-feira, março 17, 2010

Ofélia afogada entre pilhas de roupa suja emboladas pelo chão do quarto.

Agarrada ao criado mudo transbordando papéis inúteis que não consegue se desvencilhar.

Sufocada pelo telefone celular que toca grita vibra e nunca é quem ela queria que fosse.

Ofélia intoxicada pelo trânsito calor infernal de fumaça nojenta entrando nos poros aos poucos.

Ofélia no meio fio. Ofélia sem linha. Ofélia fumando marlborão.

No funk. No pagode. Ofélia desafogando.

Ofélia trepando, Ofélia se enganando.

Ela quer sentir saudades e chorar de noite depois de apagar o abajur.

Ela quer criar coragem e jogar fora tudo o que não precisa mais.

Ofélia precisa de tempo pra cuidar das plantas no terraço, dos amigos e do mural de fotos que está se desfazendo na parede. Ofélia precisa cuidar do namorado. Do que restou. Pouco.

Ofélia por pouco, aos poucos, para poucos.

Um comentário:

ravel cabral jorge disse...

no entanto ofélia ainda sonha.