Antes de começar de novo, eu perguntaria:
Você tem certeza?
E eu advertiria sobre os meus defeitos, os piores, sobre a
minha carência eterna, interna, sobre a demanda de atenção, sobre os
esquecimentos, sobre os mimos e o desejo de que se viva em função de, sobre o
nunca é o suficiente, sobre a minha capacidade de sugar você e te trazer pra
dentro deste mundo, e você vai querer sair dele e eu não vou deixar.
Mas eu já te avisaria de antemão para que isso não viesse a ser um problema,
uma questão, uma dr. Oi, tudo bem? Eu sou assim, e você?
Antes de começar de novo, eu abriria tudo de uma vez, de mão
beijada, eu falaria tudo que penso e sinto vontade, tudo que me aprisiona e eu
não suporto, eu falaria que não sou animal de gaiola embora sempre me prenda a
vocês, que me acorrento até os pés e sigo lutando pra me soltar, que
eu mesma seguro a corrente, que eu te acorrento junto e seguro a ponta da
corrente, que sou uma monstra maluca e egoísta, sim, mas estaria tudo às
claras, as cartas todas na mesa, você topa? Você encara?
Antes de começar eu escancararia a porta, as janelas, os
banheiros sujos, as louças sujas, as roupas sujas, EU estaria suja, sem banho,
“Oi, quando estou suja eu sou assim, tá afim?”.
Para quê perfume e maquiagem? Quando eu acordo eu tenho bafo.
Meus pijamas são feios. Eu fico menstruada a cada 28 dias. Sim, eu sangro,
muito. Quer mesmo assim?
E se ainda assim, depois de tudo, você encarar, vai ter que
tolerar eu pegando todos os seus piores defeitos e jogando na sua cara, é, eu
saco as pessoas, eu sou crítica e impiedosa, eu quero te moldar para ser
exatamente como eu espero, eu tenho altíssimas expectativas e quero que elas
sejam superadas, sim, como não? Mas eu já te avisei, eu sou um pequeno monstro
em potencial, um barril de pólvora, uma caixa de surpresa, você nunca pode
saber o que esperar de mim. E aí? Tá afim?
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