domingo, dezembro 13, 2015

Diário de um fim de viagem


Otto é o nome dele. O que me acompanhou por toda a viagem. Mas ele não sabe disso. Vou manter em segredo, acho.

O outro é o Wagner, que num dia assim calado, me mostrou a vida.

E eu, que antes da viagem sabia escrever. Não logo antes da viagem, bem antes, quero dizer anos antes, anos de escrita pesada viciada nas noites de centro de São Paulo eletrizantes, anos de 22 anos e Avenida São Luís. E muita muita escrita nesta tela acesa. Da avenida todos poderiam ver a janela acesa queimando do oitavo andar, e lá dentro a menina que aprendia a ser atriz e a viver a vida. E que já fumava, claro.

Durante a viagem eu soube escrever e soube viver como quem não teme, como quem vai o mais longe que o trilho do trem pode levar, pro desconhecido, pro perrengue, pro deleite, o divino, o que tem de novo no continente velho.

Da viagem sobrou um diariozinho de dimensões pequenas, difícil de escrever no trem e ônibus, mas deu pro gasto, capa de bolinhas verdes.

Sobrou a casa ainda de pé, a casa roxa na esquina de uma rua com uma outra rua, nesta cidade nova e velha e sem ar.

Sobrou só essa falta de ar.

E todo esse fim que abriu um rombo na minha vida nesta cidade, a cidade de sempre e nesta vida, a vida de sempre.

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