domingo, outubro 18, 2009

Domingo em família

Meu irmão massacra a minha mãe de perguntas e pressões e críticas e neuras e raivas e não aceitações. E ela se dá ao trabalho de responder e argumentar e dizer que não é bem assim. Eu, daqui da sala, daqui do computador, escuto fingindo não fazer parte disso, usando a desculpa: eles que se resolvam, que não me meto mais nisso. Mas a vontade de dar um grito de "DEIXA ELA EM PAZ E CUIDA DA SUA VIDA PORRA" é tão gigantesca que corro para o escrever (esse jeito silencioso de berrar aos quatro cantos as minhas indignações).
Desligo a televisão que massacra meus ouvidos e cérebro. Esse ente da família chamado TV. Este DOENTE na família que contamina todo o mundo, deixando todo o mundo louco. Celular tocando, namorado da mãe carente ligando de cinco em cinco minutos. "É Sô, a gente ta numa vibe meio pesada", comenta meu irmão. "É muito carbono, é muito motor ligado, muito carbono", ele explica. Mal sabe ele que transcrevo tudo o que ele diz no mesmo instante em que ele toma sorvete ao meu lado, ele nem desconfia. É a minha traição.
"É muito bom o final do Traisnpotting!" - puxo o assunto.
"Os irlandeses são todos malucos" - diz meu irmão. "Quando cheguei em Londres, entrei no Metrô e vi um cara sendo espancado dentro do vagão. Os caras saem do vagão e o cara fica se contorcendo no chão e quando um outro se aproxima dele para tentar ajudá-lo, ele arruma briga com ele". Aí a conversa vai pra outro lugar. Irlandeses,ingleses, drogados, desapegados, ateus, pobres, ricos, irlandeses otários dominados por ingleses mais otários (fala do Trainspotting), terra de ninguém, Londres e Amsterdam é igualzinho, você sente o dinheiro voando no ar.
Não conheço nenhum desses lugares. Desenvolvi um certo fascínio pela decadência, um glamour fodido, sei lá. É tudo mentira. É tudo um bando de infeliz que ganha dinheiro sem trabalho, diferente do Brasil. No Brasil a galera sua o bigode por um salário mínimo. Lá os caras se entopem de droga pra não pirar de tédio. O céu cor de CO2 caindo sobre nós, diariamente.

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