domingo, janeiro 13, 2008

Estranho o mundo através da janela. Estranho e branco mundo. Hoje as nuvens estão entre nós e o frio instalou-se na minha alma. Sentia algumas faltas quando elas ainda estavam presentes. Abandonei-as e aprendi a viver sem faltas. Com presenças sim. O mundo está longe: depois da janela, depois do precipício da minha janela, ali talvez haja mundo. Ou será que é só mais uma mulher entre uma janela e um precipício o que há por ali? Se nos víssemos (eu e a mulher) em situações tão semelhantes, se nos identificássemos, quem sabe aí eu pulasse precipício abaixo para alcançá-la e - por quê não? - salvá-la. Quem sabe. Mas por enquanto prefiro não me arriscar, não preciso que ninguém me salve, prefiro o apartamento seco e acolhedor. Então eu rolo pela escadaria e me levanto de susto no meio do sonho. Ao meu lado ele dorme e pareceria morto não fosse a respiração alta e bronquítica. Ao meu lado dorme o tempo, o mundo e a névoa se instaura entre o meu travesseiro e o dele. Naquela noite ele dormia enquanto eu me despedaçava em teias de pensamentos inquietos. E tive que olhar para o podre de minha alma, para o podre do tempo e do mundo, para o vômito e o sangue. Naquela noite me desfiz em sangue e vômito e ele dormia ao meu lado na sua respiração ruidosa e alucinante. Percebi mais uma vez que só eu é que posso me salvar das minhas trevas.  

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