segunda-feira, maio 28, 2007

soco

Ai que essa vida tava me apertando os ossos os soluços e eu pedindo socorro socorro.

Ela virou-se e foi nitidamente surpreendida por um bêbado perguntando-lhe onde havia nascido. "Aqui mesmo" foi sua resposta. Então ele gritou um grito bêbado: "Eu tô tentando tirar a cachaça da cabeça mas você não me deixa! Eu sou barriga verde...".
Barriga verde... Seria quem nasce no Paraná? Ela não se lembrou. O segurança do local, já bem irritado com o fato de o bêbado ficar chamando-lhe de paraense, pegou nos seus braços com força e arrancou dali o sujeito.
Ele estava tentando tirar a cachaça da cabeça. É perfeitamente compreensível. Ela mesma já tinha vivido situações de "querer tirar a cachaça da cabeça". Sem sucesso - é claro.

Mas então ela pedia um socorro abafado e o que lhe veio foi um sujeito bêbado, aos trapos, gritando confuso. Ela esperava mais. De maus tratos da vida com os seres humanos já estava farta. De andar sozinha por aí também. Farta de ser um ser humano sozinho como todos os outros.

E a vida apertando-lhe, puxando seus cabelos e arranhando as solas dos pés, cuspindo-lhe na cara, e ainda dizendo (tendo a coragem de...!) que a amava.

Mas também ela amava a vida aos trancos e barrancos, aos trapos, nos barracos, nos sopapos que levava na cara. Amava-a em cada pedaço podre de pão, em cada incêndio e inundação. Amava-a sóbria ou caindo de bêbada, amava-a no forró e no botequim mais fuleiro.

E a vida seduzindo: "Não desista... só os fracos é que desistem. Vai mais um pouquinho... mais um pouquinho... mais um pouquinho". E fraca ela não era não e ai de quem dissesse o contrário. E desistir jamais. Então de pouquinho em pouquinho ela amava a vida, amava cada dia de dor, de doença, amava muito todos os dias de sol torrando a cuca, e dias de pinga e dias de aborto, tudo isso ela amava muito.

Como é que fazia pra sair do ciclo dia-a-dia, que parece mais um furacão que envolve todo o mundo dentro e ninguém sai de lá nunca? Ileso - nunca?

Como é que fazia, meu Deus, pra não ver tanta gente judiada por aí?

Ai que essa vida tava me apertando os ossos os soluços e eu pedindo socorro socorro socorro socorro socorro socorro socorro.

É que o socorro tava mais prum SOCO que sai CORRENDO...

Um comentário:

. disse...

de cara nova.
gostei do soco.
mas eu só corro...