quinta-feira, abril 19, 2007

É cada vez mais urgente viver o hoje.
Deixar as memórias irem.
Desapegar, sair sem as bugigangas penduradas, sem carregar consigo a gosma se arrastando atrás e prendendo os pés. Fixando-nos no lugar.
Tem que largar dos fantasmas, deixar que eles próprios sigam o caminho deles e parem de seguir o nosso. Largar o osso.
É urgente viver cada dia como cada dia.
Como cada ser novo que surge de nós junto com esse dia novo.
Página em branco todos os dias.
Cada dia a história muda, por mais rotina que haja, por mais horário que haja, por mais cidade que haja. Muda. O jeito de encostar o pé no chão ao sair da cama é outro todos os dias. O Bom Dia do porteiro tem uma entonação diferente. O jeito de engatar a primeira marcha e a sensação de liberdade de abrir o vidro e cantar "Hey You´ve qot to hide your love away" é diferente da do dia que veio antes. Os Beatles são novos sempre.
De noite, as luzes da cidade me encantam sempre.
E o jeito de andar na rua e olhar os prédios desfilando ao lado é outro.
É preciso encontrar encantamentos dentro dessa intoxicação em que vivemos. Dentro desta tubulação de gases transgenizados, monstrificados, mumificados. Inseridos na incomunicação absoluta de mundos, seres, habitáts, bolhas (in) visíveis.

Tem que tirar a cabeça do balde e respirar como se pela primeira vez. Fazendo isso todos os dias quem sabe a gente aprenda que não se nasce só uma vez na vida. E que as mortes estão por tudo, e que precisa arremessar o sapo na parede pra ver surgir o príncipe.

O meu corpo às vezes grita por dentro e eu não tenho ouvidos para lhe dar. Por dentro, de vez em quando os ouvidos são surdos demais, perdendo tempo demais com os ruídos que vêm de fora. E quando o meu corpo, as minhas entranhas, pulmões, os meus rins e o meu coração tentam se comunicar comigo eu opto pelo remédio e não pela saúde.

Hoje o meu corpo pede acolhimento. Ele me chama e eu o escuto. Hoje sim.

5 comentários:

Larissa Minghin disse...

Te amo!

Anônimo disse...

é ur gen te viver c a da dia
como ca da d i a. . .

Anônimo disse...

difícil isso, mas necessário. rsr

marcio castro disse...

saudades dos escritos de sofia.

ana disse...

g,o,r,d,i,n,i!
delicioso teu texto.
vc fala um simples cheio de sabedoria.
'sophia'!!!