quinta-feira, dezembro 21, 2006

Perdas e danos

Preciso precioso tempo e palavras perdidas à toa pelo ar conden-concentrado. Ouvido absolutamente límpido para não causar interferências largas. Passos de bêbado caolho entrecruzando a guia da calçada destruída. Em ruínas, cegos caminham caminho noite e vida afora, no escuro do dia que brilha sem se ver. Vendemo-nos em gatilhos e estouros sem som. Procura-se calor entre pernas moles que não firmam carinho, estagnam. Estagnamo-nos no amor, na desculpa de um companheiro tão solitário quanto nós mesmos. Solidões que se encontram, se penetram e não preenchem-se. Olha lá como eles caminham sem se notar. Tocam-se as mãos mas o áspero da pele morta não se faz perceber. Tocar sem sentir o outro é sintomático de uma civilização em cadências quietas e acobertadas. É preciso o amor tanto quanto o vazio de dentro fundo que nos move. A arte diminui, à medida em que não se vê as cores lá fora, o dia passando, a rua em eterno movimento de pés-anté-pés, de bundas justas que desfilam um rebolado intrigante. É preciso a arte tanto quanto o amanhecer infinito, quanto a pele na outra pele, tanto quanto escurecer acende os vagalumes.

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