domingo, julho 08, 2012



Ariadne trança os fios de seu amor impossível. Pega o carro e atravessa a cidade ouvindo músicas do momento no rádio. Não canta junto. Se enfia no labirinto minhocão, 23 de maio, barra funda, zona norte. Cidade de fios visíveis e invisíveis. Cidade trama. Cidade conexão. Perder-se do outro e de si, cidade afora, noite adentro. Despistar-se. Só. Perder-se.

Mas ela não sabia esquecer. Sabe onde ele mora, sabe onde o encontrar, sabe seu número de telefone, o nome de sua mãe, a cor do seu carro. Sabe como chamá-lo. Sabe, secretamente, que ele ainda... ou inventa. Ou canta. Ou bebe. Ariadne não confia no destino, Ariadne não é mitológica (quem raios é Ariadne, e por quê ela, assim, nos meus escritos?).

"eu amo dois", diz para si no silêncio de seu labirinto.

Ariadne e um minotauro aprisionado.

Deixa seus fios, seu rastro, a pé ou de carro, deixa seu cheiro na avenida das luzes, pixa seu nome debaixo do viaduto, acende uma vela na esquina do cemitério do araçá. Pede pros deuses do asfalto, pros doidos da rua, conta teus segredos à uma criança.

A cidade dorme e ri. A cidade te engole, Ariadne, ele te esquece, Ariadne, ele te esquece, Ariadne, pouco a pouco, ele te esquece, Ariadne.

Um comentário:

Paloma Mecozzi disse...

como eu amo te ler.
como me soa "familiar".
como é foda esse jeito de escrever.