segunda-feira, dezembro 15, 2008

Materno

Te tiro filho e te tomo mulher. Te bebo, ingiro - indigna do posto Mãe. Mas me esforço - talvez com mãos delicadas demais para me chamar mulher - me esforço por recompensar a tua orfandade. E embalo nos braços um filho com pelos barba cabelos a mamar nos meus seios: secos. Enquanto me mama, me suga, um homem sem fome de filho, com nome de homem, a barba que me machuca a pele fina de menina se fazendo mulher. Te rapto filho e me faço mãe, injusta; um filho que chupo e sequer tive o trabalho de criar. Me chegou pronto, crescido, cheio de pelos e medos pelo corpo todo, crescido dos cuidados da mãe real. A que te nomeou e amamentou sem sentir prazer sequer nos seios, estes sim, cheios de leite e de vida para te dar, para que sobrevivesse ao crescimento e chegasse até mim, assim formado, assim, para me lamber os seios a boca e me chamar de sua mulher. E me disponho, cumprindo um papel roubado da outra - aquela sim, mulher - te amamento de nada, com mamilos vazios e rosados de menina que ainda sou. Enquanto isso fumo, eu a mãe torta, a mãe que pode fumar enquanto dá de mamar, mãe e mulher de um filho homem e pai de mim. Já me chega peludo, cheio de raiva e tesão, os erros da outra - daquela mãe mãe - sou eu quem devo arcar. Não tive a chance nem o trabalho árduo de te educar, mas posso lhe ensinar o ponto onde sinto mais prazer quando me toca, me lambe me roça, eu a mãe que fuma, que se entrega pros seus pelos e medos. Mas nunca te poderei ter pra sempre, já que ela, ela é que sempre o terá, como o pariu filho homem, peludo, barbado, pai de mim.

Um comentário:

Cristiano Gouveia disse...

Grávida de sonhos.
Ávida de mãos.
Impávida colossal e apaixonada.