Boemia que me suga, leva-me a alma e transporta-a ao paraíso dos que pretendem fugir de si mesmos. Pulmão doído. Tempos nebulosos, esses.
Acordo com sol e durmo nesta embriaguez faminta, insaciável, impaciente que ando. De pulos, aos trancos, sem paciência para o farol vermelho, nem pudor para cantar desafinado no meio da rua. Apegada a novas pessoas e a tristes velhos hábitos. De encher e esvaziar, de não se sustentar, de correr e perder o fôlego rapidinho.
Boemia que me suga, leve-me para passear nos teus braços peçonhentos, sob o céu da chuva ácida, sobre o arco-íris da felicidade clandestina dos outdoors. Me leve para correr nas calçadas vazias e remotas, na selva fria da cidade mórbida, moribunda. Tire-me, morta-viva que tenho estado, deste limbo agridoce enjoativo. Vomite-me para que me renasça limpa, sem angústia que reste para contar a história. A minha história começa quando eu me desamarrei sem querer ser desatada. Quando fui descartada sem mais. E é difícil ir fundo nas coisas porque é difícil relacionar-se com tudo isso que nos cerca. Porque é difícil se doar, deixar doer, roer o osso, triturá-lo em pedacinhos de liquidificador. É difícil deixar-se reduzir, quase impossível.
domingo, setembro 10, 2006
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2 comentários:
vê se um corpo que rola pelas calçadas esbarrando nas garrafas de agua 500ml.
corpos que são levados pelo sereno pesado do vento noroeste. corpo leve, dois centímetros acima do chão, mais um tropeço em uma lata. um tombo novo.
e o cantarolar desafinado que sustenta o fôlego de respirar...
medo de doer é parte. querer ter medo ninguém quer, mas quem diga lá que isso é possível?
reduzir-se a sinceridade de deixar doer-se.
A gente medra, a gente se desvenda, a gente desafina e apreende e afina e canta e conta e aumenta. A gente é gente, difícil é entender. A gente acha que a gente é cerebelo. A gente é meio, a gente é bocó. A gente é meio bocó. Pra ser mais gente.
A gente é raso. Pra um dia ser vaso. Pra deixar-se semear.
Deixe-se semear.
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