segunda-feira, maio 31, 2010

E até me esqueci que hoje é segunda feira. E amanhã, terça. E amanhã, cedo. E amanhã muito. Trabalho. Vida labuta de dia de noite. Vida escorrega. Vida entra vida sai. E dói meu corpo o acordar cedo, dói mesmo, machuca acordar cedo. Acordar cedo faz mal à minha saúde. Mental, física, espiritual. Acordar cedo é um estupro aos meus sonhos quentinhos.

Viajo porque preciso. Volto porque te amo.

Viajo porque prciso. Não volto porque ainda te amo.

Viajo porque preciso.

Esse filme do Karim Aïnouz e do Marcelo Gomes que é todo poesia em forma de filme. Que é todo lindo. Todo Brasileiro. Nossos dialetos, nossas putas, nossas estradas de nada pra lugar nenhum. Nossa terra cheia de vida cheia de tudo. Ele começa a viagem contando os dias pra que ela acabe. No final, ele não quer que acabe nunca mais. E que nada é eterno: nem as falhas tectônicas, nem o amor.

quarta-feira, maio 26, 2010

Para o Dr. Maurício que vai me salvar (mesmo que leve 8 anos)

Árvore que quer crescer e é impedida continua crescendo mesmo que torta. Tortuosamente crescendo.

Sou uma árvore de tronco sinuoso.
Tentaram me podar
me impedir
me bloquear

Tenho seqüelas da tortura por todo o meu corpo torto
Na minha língua presa
Na minha coluna em S
No dedinho do meu pé direito que não encosta no chão como o do pé esquerdo
Nas minhas dificuldades de equilíbrio

Mas mesmo tendo me impedido

me atado
e desejado me abortar

Não puderam (nem nunca conseguirão)
me calar.

Se sobrevivi ao parto

à infância

à puberdade cruel e anoréxica

Se cheguei até aqui

é porque fui e sou

forte.

o
bastante.

domingo, maio 23, 2010

Parece que estou vivendo com uma intensidade acima do nível normal de intensidade aceitável. São tantas e tantas coisas que acontecem num dia. Minha vida é feita de dias que amanhecem e quando anoitece eu até já esqueci da hora em que amanheceu. E às vezes anoitece e amanhece de novo, num mesmo dia. Dias de nem me lembrar o que foi que eu vivi na sexta feira, que passou há apenas dois dias. Dois dias são uma eternidade que ao mesmo tempo acontecem na velocidade da luz. Na velocidade de um sonho bom. Já é fim de maio. Onde estive por todo este tempo? Este mês que não vi chegar, não vi passar? Este frio que veio, essa coca cola, esse sítio, essa fogueira, essa bebedeira, esse cair num buraco que abre embaixo de mim enquanto estou dançando, este café com o kenan, estas apresentações lotadas, umas brigas e uns supermercados, umas aulas na usp, uma vaga em berlim, uma viagem para o sertão e uma viagem para a alemanha marcadas, uma vida pra viver e ela passa tão depressa que não consigo sequer saboreá-la. Quero sentir o gosto da vida. Talvez eu tenha começado este texto da maneira errada, O que eu queria dizer é que as coisas acontecem com uma intensidade e velocidade que não dá nem tempo de viver. Me falta tempo de viver intensamente e isso é o opsoto do que eu disse acima. É isso mesmo. Sou profunda e intensamente contraditória. E quem não quiser, não me acompanhe.

quinta-feira, maio 20, 2010

tocar as teclas do computador como se fossem piano e sair escrevendo sons silenciosos.

segunda-feira, maio 17, 2010

agora já foi.
o dia branco dentro e fora. as lembranças esfumaçadas pelo tempo.

quando a gente se encontrou no mundo e era isso que fazia todo o sentido. o que tinha vindo antes e o que viria depois, tanto fazia, já que ali sim o encontro acontecia do jeito mais intenso, mais explosivo, mais certo. e que a gente era foda, exemplo pros outros, até. e que a gente se conheceu todos os dias. e eu esperava ansiosa a hora de chegar na escola livre. umas horas eram muito demoradas. eu queria mais era te ver, fazer as cenas com você, ficar junto no intervalo inteiro, conhecer sua casa, seus pais, interlagos. eu queria mais era viver com você todos os dias sem parar sem respirar, senão parecia que eu ia morrer. porque era tanto amor era tão certo tão justo, o encaixe, o tamanho, a conchinha, o banho, a tv no sofá, as viagens de carro. era tanta coisa em comum. as ideias.
as ideias de vida de arte, de luz, de cena, de nekropolis, de músicas, de estirpe, de club noir, e as discussões, e as inquietações, e a arte e a arte que faríamos juntos, a arte e o amor que faríamos juntos, pra sempre. e o nosso grupo de teatro. e o kenan. e a arte. e o amor.
aí que eu te achava um gênio. e acho ainda.
um gênio chato como todos os gênios são. egocêntrico.
aí que eu achava que juntos a gente ia botar pra quebrar.
você ia me dirigir. e me amar. pra sempre.

domingo, maio 16, 2010

Aí quando dou por mim sinto o peso das tradições sobre os meus ombros. A herança genética. Os jeitos em comum. Os gestos - espera, quem anda assim não é a minha mãe? Ou minha vó? Minha irmã? Não sou eu quem ri assim, quem fala assim, essa voz, a entonação toda, é roubada ou entuxada no meu corpo. Vem com as garfadas de arroz e feijão. Vem das históias do vovô Antônio na mesa das crianças na hora do almoço. Vem com os móveis pesados de madeira escura da casona. Ou do cheiro de remédio no banheiro da Vovó Maria. Vem da mãe. A mãe. A mãe. Que fujo em vão indo cair no mesmo lugar. Nos mesmos erros, mesmas fragilidades. E eu fujo e fujo e corro com fé e nada. E volto pra esse que é o lugar por onde eu cheguei no mundo. Atravessei as suas entranhas, mãe, pra chegar aqui. Como posso fugir das nossas semelhanças?
Não sei se posso. Se sou ingrata. Não sei.

sexta-feira, maio 14, 2010

12/05/2009




Era assim que começava: o dedo indicador dele deslizando sobre o bico do meu peito que fica durinho na mesma hora em que me sobe um arrepio gostoso até o topo da cabeça. Eu enfio a mão entre os seus cabelos e puxo de leve trazendo a sua boca para chupar meus peitos. E de vez em quando ele morde. Era assim que começava. O mesmo dedo entra na minha calcinha e eu gemo enquanto aperto o seu pau com toda a minha mão. Arrancamos as roupas e sentimos o corpo um do outro por inteiro e ele enfia o pau em mim e eu gemo mais alto e aperto ele com a minha boceta. Era sempre assim que começava. E não sei se gemo de tesão ou porque às vezes sinto dor quando o pau entra. E sai. E entra e sai. E entra. E sai. Minha cabeça é minha maior traidora e traz pensamentos de Estêvão e Olívia. De amigas que me esqueceram. Do que comi ontem à noite. Me vejo gemendo pra agradá-lo, pra mostrar que tenho tesão com seu pau entrando e saindo de mim. Os movimentos continuam e se alternam entre reboladas e metidas mais fortes, mais fracas. Eu também rebolo enquanto penso que deveria estar envolvida com a transa e me dói o não sentir meu corpo, chafurdada em pensamentos cruéis. Ele aperta meus peitos. Eu lembro da viagem pra Rio Claro com o Estêvão. Ele segura minha bunda e mete com força. Penso nas rodas de samba quando meus amigos ainda sentiam a minha presença. Ele beija a minha boca. Eu amo esse homem que me come, mas preferia não estar trepando agora. To menstruada, tá ficando tudo sujo e meu pai está dormindo no quarto ao lado. E ainda tem esses pensamentos me aporrinhando enquanto eu gostaria – como gostaria – de estar sentindo tesão com o meu namorado que me fode com tanta vontade. Arranjo uma desculpa – falo que estou sentindo dor, que não estou à vontade, tenho medo de acordar meu pai. Ele pára depois de gozar. Desmorona. Eu saio do quarto para me lavar no banheiro e quando volto ele tem o meu diário nas mãos, aberto na página:
“- Eu posso ser o amante de qualquer pessoa, menos o seu, Sofia – disse o Estêvão. É, ele mesmo, que surgia assim, súbito. Susto. – Por quê não? – respondi perguntando. Engatei a primeira marcha e fui embora rápido. Só o vi apagando o cigarro na calçada molhada, pelo retrovisor. E já o reconheci como se nunca tivesse tido uma separação. Como reconheceria o meu próprio rosto no espelho...”
E as palavras fugiram em revoada, deixando-me quilômetros para trás olhando para ele, meus olhos trêmulos e nus. Agora eu estava nua diante dele. Sem palavras que me escondessem, sem desculpas que disfarçassem. Era eu. Meus olhos e meu corpo expostos verdadeira e dolorosamente. Ele foi embora depois de bater uma punheta ao mesmo tempo em que me masturbou. Levou meu sangue com ele.
E que o meu amor viria à cavalo, rompendo o cimento das calçadas históricas, os discursos super-reproduzidos, as imagens sobre-produzidas e tudo o que é feito de sal. Que viria para me adoçar e me colorir, sendo la dolce vita na Salina Del Hombre Muerto.
Que reconstituiria meus óvulos perdidos este mês e que me devolveria todos aqueles que me disseram tchau. Que me tiraria o teto e me daria o chão.
Este amor-gente-sonho-desejo-ilusão que me apagaria do meu passado e me imporia outro presente. Pessoa feita de nada, de palavra inventada e cara fotografada. Tudo eu de novo e ainda, com fome, com medo e sem sono. Monte de paixão intacta e amor compartilhado. Broto de promessa adiada, de digestão regorgitada. De processo, processo, processo.

Recai novamente meu corpo e, assim, ninguém pelo caminho consegue passar.

Por Joana Elkis, amada amiga,
sensível, forte, foda.

terça-feira, maio 11, 2010

minha queimação no estômago
revolução dentro de mim
eu queria pendurar as minhas tripas num varal
me revirar do avesso no meu próximo projeto artístico
mover minh'alma na direção do público

minha auto-guernica.

Não quero a absolvição

me interessa a coragem

não saber se fiz o certo se disse o que tinha que ser dito se não traí não xinguei

quero estar inteira nesta arte de que escolhi viver

não queria me vender nunca mais

saí tão absolutamente tocada da última reunião com o meu grupo que até chorei. de amor por isso que escolhemos fazer, juntos. por todo esse trabalho. esse empenho. essa paixão que nos move. é lindo e difícil demais fazer teatro. ser fiel a ele. a nós mesmos. ser íntegro. fazer aquilo que de fato nos modifica. que modifica o ao redor. que chega, que toca, que esfrega, convida, que espreme, supera, que cativa, que engrandece, sublima.

sublime o teatro.

sublime a arte.

sublime trabalhar com pessoas pelas quias sou tão apaixonada, admiradora, devota.

a gente pode não estar 100% preparados no quesito atores. mas no quesito seres humanos, vamos indo muito bem.

e não é isso que importa nessa vida?

domingo, maio 09, 2010

porque o mais legal é escrever de amor. pode inventar pode iludir pode desejar. desejar escrever do amor é desejá-lo tão ardentemente que só dentro não dá conta e as palvras vêm pra caber mais, pra ir além daqui, pra pirar no amor.
4 anos de palavras. Trajetos. Planos. Frustrâncias. Successos. Ou não. Até chegar aqui. Quando decido que
a partir de agora, tudo será ficção.

Meus peitos fartos
Meu pelo ruivo
Meu uivo
meu livro que não é mais meu.

Agora é que são outras. Agora é que a palavra faz mais sentido do que nunca. Que a liberdade ganhou outra dimensão. Agora é já.

E já que estamos falando disso,

lá vai o primeiro.

Detesto quem sabe escrever. O que esses não sabem mesmo, é viver. Viver mesmo, com v, com tudo o que é grande nesta palavra.
Me brocha. Me desanima. Não vem escrever cartinha de amor e muito menos bilhete de geladeira.

quinta-feira, maio 06, 2010

curto tuas fotos
teu índice

longos teus cabelos
teu trago
tua língua

sucção lenta

você, ali na janela do outro lado da rua

te decifro
te ignoro

que poderia ter sido

poderíamos ter fugido pra todo o sempre
pra perto ou longe
com você tanto faz

eu do lado de cá
da janela
da cidade
do mundo inteiro

o lado de cá do mundo inteiro
é só o lado de cá da tua presença

terça-feira, maio 04, 2010

felino

Créc.
É.
Esse é o ano do Tigre, meu signo no Zodíaco Chinês.
E é assim que funciona: ou vai, ou racha - você escolhe. Partir ou ficar. Desapegar ou criar nhaca. Ter coragem ou ficar pra trás. Encarar ou sofrer.
É.
To gostando de ver.
O Tigre tá me dando uma puta força.
Voltei pro Kung Fu, descobri que sou uma pessoa agressiva, o oposto de doce, que é o que os outros pensam que eu sou. Tanta doçura pra disfarçar tanta raiva. O lance é canalizar a raiva pro lugar certo. Não deixar virar tristeza, frustração, sofrimento, que é o que acaba acontecendo muitas vezes. O lance é saber se defender, e nem sempre pra se defender precisa atacar. Precisão na defesa. Precisão no ataque. Ser certeiro. É essa a força exata, não mais, não menos, essa. Ié.

segunda-feira, maio 03, 2010

Cisão

Não to enxergando muito bem. Tá embaçando a minha vista. A cabeça dói na região dos olhos. Hoje na faculdade não enxerguei a lousa. Sempre me orgulhei de ser dessas pessoas que não precisam de óculos. Sempre disse assim pras pessoas: "a minha maior qualidade é a visão. Eu enxergo muito bem". Aí eu é que lia as placas de rua, à noite, perdidos pra festa. Eu que via de longe qual era o ônibus certo. Eu que lia a bula de remédios pra minha mãe. A conta do restaurante pro meu pai. Agora sinto como se eu tivesse perdendo meus super poderes. Quer dizer, o meu único super poder. Isso é realmente terrível. Agora, por exemplo, não to nem olhando a tela do computador. Só olho pras teclas. Quando olho pra tela minha cabeça lateja.
Estou me transformando em mais uma reles reles reles mortal.
Detesto ser reles.

domingo, maio 02, 2010

mañana

6 in the fucking morning.
vontade de escrever, do além.
tá foda o teclado. de enxergar as teclas.
o dia ainda não veio. o amor já foi. fico eu e essas letrinhas miúdas. migalhinhas de letras esparramadas.
se esparrama pelo chão.
é migalhinha ou migalinha?
hahaha
mi galinha.
mis galiñas.
vengam galiñas.
vengan com la madrugada ardiente.
la madrugada que se madruga en fiebre.
el suelo, la luna que se pongô.
el suelo que arrebenta la placienta de Diós.
dios el barbado señor, el pobrecito que madruga todos los dias. dios ayuda quien cedo madruga!
estou completa e alucinadamente fora de mim.
é bom registrar esses momentos de inspiração etílica, latina e madrugadora.
és eso. punto final.

sábado, maio 01, 2010

Carta de intenção

Não sei por onde, mas eu começaria mais ou menos assim:

me chamo sofia sou brasileira tenho 23. quero fazer esse curso porque quero sair deste país de merda que não dá espaço pros artistas. quero ir prum país onde os artistas são tratados com seu devido respeito, onde sua importância é reconhecida e cuidada. quero ter espaço pra criar. quero ver novos ares, cansei dos espetáculos daqui. cansei da praça roosevelt, dos sescs, dos sesis, dos antunes, zécelsos, dos musicais, dos alternativos, dos radicais e dos doidões. quero ver coisa nova. quero vocês seus alemães malucos. quero ver como vocês pensam essa coisa arte, esse negócio de teatro deve ser um troço bem diferente pra vocês. isso porque vocês já estavam escrevendo coisas geniais muito antes deste país se entender por gente. isso porque vocês possibilitaram goethes e schillers, e brechts, e heiner mullers. eu quero isso aí, tá? aprender essa cultura aí. posso? vocês aceitam uma brasileira atriz que quer escrever que quer dirigir que quer existir e viver disso pra sempre? vou praí ver como é que vocês fazem. aí quando eu cansar vou pra outro lugar. e outro. e mais outro. e vou assim: vivendo e experimentando. aprendendo umas línguas, tomando uns drinks, curtindo umas paisagens, uns passeios, uns rios e pontes antigas. nos intervalos escrevo, piro, crio. trabalho. aprendo línguas, conheço gente, gente, gente. adoro gente.

sem mais,

sofia.